Sentinelas de fogo
as luzes na cidade
Olhos sem pálpebras
a vigiar encontros
clandestinos
buscas de pão ou
outras sobras do dia
e a magreza das árvores
no exílio
Só no ventre das casas
Só no ventre das casas
defendidas das luzes
se acoitam férteis
os humores da noite
Era a sombra de um homem na noite da cidade. Aos ombros uma manta. Ou os restos dela. Das mãos pendiam sacos. Só os sacos eram brancos. Sentava-se no degrau amplo, abrigado, patamar da grande montra. Deitava-se, ali mesmo, quando as luzes da montra se apagavam. Deixava de ser sombra. Era agora um homem deitado no escuro. Como tantos outros.
Licínia Quitério
Licínia Quitério