25.1.08

FOI QUANDO DISSE


Foi quando disse rosa
que te fizeste flor.
Tivesse eu dito casa
terias sido o olhar
mais alto da cidade.
Porque te disse amor
passeias o meu corpo
junto às torres,
digo, estátuas.


Licínia Quitério

16.1.08

CENÁRIOS IMPROVÁVEIS 3







Temos tanto mundo para andar.
É só redescobrir o antigo olhar e perscrutar o interior das grutas.
Expulsar da pele os detritos do tempo.
Caminhar ao acaso sobre tesouros e segredos.
Repegar os cenários improváveis do anúncio que fomos e aguardar naturalmente a explicação das pedras.


Licínia Quitério


10.1.08

CENÁRIOS IMPROVÁVEIS 2






Poisa os teus olhos sobre o verde. Respira leve como se fosse o medo que te guia. Abre devagar a tua mão direita até que seja concha. Ajoelha-te rente à frescura da manhã. Bebe o inconcebível frémito da luz. Deixa o teu sangue correr pelas nervuras do outro corpo que não sabes. Nascer-te-ão palavras na garganta. Talvez consigas dizer um poema, gota a gota, e uma asa o deponha, com desvelos de mãe, no cálice da noite.

Licínia Quitério

3.1.08

CENÁRIOS IMPROVÁVEIS










Mãe,

Posso ir brincar naquele monte azul, ao longe? Não o vês? Depois do mar. Antes do céu. Lá vivem meninos felizes com os olhos postos na nossa praia. Mandam-me recados por um albatroz. Eu não me demoro, Mãe. Vou numa maré e venho noutra. Achas que não é um monte? Como os teus olhos estão fracos. Faz como eu. Deita-te no chão, de costas. O que vês lá em cima? Isso mesmo. Um lago muito grande onde se miram nuvens vaidosas. Apetece-te mergulhar nele? Que bom, Mãe. Há quanto tempo não brincavas? Agora dá-me a tua mão e fecha os olhos. E diz comigo: um-dó-li-tá quem-está-livre-livre-está. Outra vez. Mais alto. Outra vez. Mais alto ainda. Não deixes a minha mão. Grita, Mãe. Quem-está-livre-livre-está. Agora abre os olhos. Chegámos, Mãe. Como é belo o monte azul. Sorri aos meninos, Mãe. Sorri. Amigos, esta é a minha Mãe que mora comigo além do lago. Trouxe-a para brincar convosco. Não, não é um anjo. Fica assim bonita quando fecha os olhos e me dá a mão. Sim, viremos aqui muitas vezes. Antes que os nossos pés desapareçam nas areias.

É hora de voltarmos, Mãe. Diz comigo: um-dó-li-tá...


Licínia Quitério

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