25.3.08

DE SÚBITO











De súbito uma cor
a confundir o branco
um pequeno volume
a deformar o nada
um claro atrevimento
na placidez do sono

uma preciosidade
uma jóia sem nome
um rasto de cometa
o recado de um sol

como se fosse possível
enunciar instantes

como se fosse prestável


Licínia Quitério

18.3.08

ERA OUTRO O TEMPO























Era outro
o tempo de darmos as mãos e
acolhermos o berro dos pavões
no recorte sombreado das tílias

Do fragor do leque dos pavões
abalando a moleza da tarde
guiando o desenho da pele
por entre o desalinho dos sentidos

Era outro
o tempo em que chorávamos
abraçados na dança dos pavões
ou tombávamos ébrios
porque as tílias estavam em flor


Licínia Quitério

10.3.08

TESTEMUNHO



Hás-de contar-lhes como atravessámos os serões com uma faca nos dentes, aguardando as pancadas secas na porta das traseiras. Que só podiam ser três, com um segundo de tempo entre elas medido. Abria-se Sésamo e a conversa folheava histórias com ladrões de pão e de futuro. Declarávamos que as asas da verdade seriam velozes e seus rumos altos e certeiros.

Hás-de dizer-lhes como voltámos ao claro-escuro dos pátios onde deixáramos as construções de saibro e chuva, para nos alegrarmos com o germinar das sementes.

Não lhes dirás que alguns deles rapinarão as águas, nem que outros soltarão os cânticos purificadores da sujidade das ruas.

Deixa que riam quando uma cigana lhes ler a sina na palma da mão.


Licínia Quitério

4.3.08

GRAFIAS




Porque as dores são verticais
tem de haver um lugar






onde escrever pela mão dos anjos
horizontalmente


assim


Licínia Quitério

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