Rasgões em ameaça à coesão da cal, as plantas invasoras, vingativas, rejeitadas pela placidez dos bosques, as cores decadentes, tumulares, o sossobrar do prumo nas empenas, a desistência da onda nos beirais.
Há quem diga assim a casa velha.
A porta só no trinco, em alarde vermelho, as trepadeiras vivas abraçando a cal, em cada telha um ninho ou uma espera, um sossego, um tempo livre de traições ou abandonos. A respiração dos passos na soleira, o calor no inverno, o amor de quem partiu e a paz que se aprendeu.
Há quem diga assim a casa velha.
Licínia Quitério
15 comentários:
É verdade. Mas a casa velha também tem alma...muitos beijos.
Quem diz assim "A respiração dos passos na soleira, o calor no inverno, o amor de quem partiu e a paz que se aprendeu." sabe do que diz. Um beijo.
Lembrei-me da casa onde nasci.
Como gostava que fosse uma casa velha, assim... ainda com vida!
Beijo
E a nostalgia em fulgurações dolorosas mas belas a escorrer por cada poro ds tuas palavras!
Há quem diga assim a casa velha...
Há quem viva assim a vida velha...Mas ...a respiração dos passos na soleira, o calor no inverno, o amor de quem partiu e a paz que se aprendeu não nos impedem que, sem nostalgia,a recordemos a infância e a meninice, livre de traições e abandonos,vivida entre amizades e sonhos! Recordas esses tempos, Licínia?
Queiroz,
Que surpresa boa. Recordo, claro. Meninos que fomos, em saltos e correrias e em sonhos, muitos sonhos. Ainda cá estamos e espero que um dia nos vejamos.
Um abraço vindo dos confins dum tempo, lá muito atrás, num pátio dum colégio.
... lembrei-me de repente daquela canção "era uma casa muito engraçada, não tinha tecto não tinha nada... "
Esta tem, e embora com dificuldade respire (as casas respiram, têm vida, o que julgam?!), resiste para que dela nos digas deste modo o seu viver. Difícil.
beijinhos.
São assim as casas velhas...
Beijinhos
As casas velhas ficam quietas, deixam-se invadir de memórias e pássaros. As casas velhas acreditam, por isso ainda estão de pé.
Bjinho
Pareceste-me agora uma "encantadora de casas velhas",
ouvindo-lhes os segredos que contam em voz inaudível para os comuns mortais...
Para além das palavras é também muito bela a foto!
Tantas histórias a cal guarda e a tinta alvoraça ao nosso olhar!
Tantas heras tatuadas nos muros da memória!
Um beijo, Licínia.
Muito interessante a diferença entre os dois parágrafos cortados pela frase "Há quem diga assim a casa velha". Porque a vida se aprende na mudança do olhar e do sentir? Porque a única solução para sobreviver será a paz interior que se deseja? Gostei muito.
Formas diferentes de ver a casa velha. Pergunto-me se não terá um pouco dos dois olhares. Claro, a nossa nostalgia faz-nos olhá-la pelo segundo prisma que é, afinal, aquele que para nós conta. Para o nosso aprender de vida. **
Não existem casas velhas
Se delas guardamos boas memórias
são casas vivas
com muitas experiencias
tu dizes a «casa velha» com muita poesia!
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