20.4.09

VIAJO



Por vezes, viajo. Não o faço quando as asas da partida e da chegada ficam pesadas demais para os meus ombros. Digo da viagem concreta das estradas. Que da outra, inacabada, misteriosa, única, hoje ninguém alcançaria a minha fala.

Voltarei quando Maio ainda for giesta e rosa.

Até lá, o meu abraço de gratidão.


Licínia Quitério

15.4.09

TORRE

Mensageira entre o azul e o negro, o ardor e o gelo.
Esconderijo de anónimos segredos.
Indiferente à ofensa do machado, à ingratidão dos fracos, à vileza dos fortes, à afronta dos ventos sem mudança.
Árvore ressurrecta, refeita, recomposta, soberba.
Uma pedra ou um livro, um cântico ou uma fonte.
Escultura da memória.
Cerne de vida, lenho de morte.
De pé, sobre o alto dos altos, exposta, ofertada, violenta.
Torre, testemunha de castelo havido.

Licínia Quitério

6.4.09

CHEGAM PELA TARDINHA

Chegam pela tardinha
com as costelas doridas
e o amargo nas pupilas.
Um dia mais, pleno de
turvações e folhas mortas.
Pensam caminhos sobre
feno acabado de cortar,
mas vem tão longe o estio.
Fazer a festa, o gesto largo,
armar o palco das palavras
e pô-las a tocar, olhar e ver.
Pegar a voz nas mãos unidas
e lançá-la, despudorada e forte,
do cimo da vontade, até ao céu.
Soltar o medo e apear os ídolos
dos pedestais de cera.
Fazer soar um sino na garganta
e expulsar a rouquidão
das névoas persistentes.
Do magenta ao escarlate é
um pé descalço e o peito aberto
à tentação do vento.
Que venha o tempo de pôr asas na voz
e desvendar segredos de Epidauro.

Licínia Quitério

Nota: Uma breve pausa para outros lugares, outros olhares. Até à volta. Fiquem bem. Deixo um abraço e um sorriso.
Licínia

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