Podia dizer-te da ausência como quem morde a espuma ou apunhala sombras e afastar um sonho enroscado no pulso. Pegar na espuma e nas sombras e depô-las na paisagem com a leveza que as aves ensinam. Se eu caminhasse sobre os campos de neve e olhasse para trás e apercebesse um rasto verde de agulhas e um cheiro morno de incenso no altar da distância, quem sabe a ausência mais não fosse que uma garra cravada na garganta do inverno, dor provisória, amortecida, guardadora dos casulos da memória.
Licínia Quitério