27.12.09

BOM ANO



Um dia destes o calendário nos dirá que já é maior a soma dos anos havidos. Encetaremos mais uma contagem do tempo das nossas vidas. Ficarão para trás as dores e alegrias que nos rechearam os dias. Olharemos mais uma vez o filme do passado e deitaremos contas ao que doámos e ao que negámos, ao que construimos e ao que adiámos, às horas que rimos e às que chorámos, aos amigos novos que conquistámos e aos que nos esqueceram ou partiram para sempre.
Fazemos votos de um novo ano diferente e melhor. A esperança ainda não morreu. Bem por dentro do nosso coração, projectamos um mundo luminoso e solidário, povoado de homens e mulheres com gestos verticais, rodeados de crianças de risos abundantes. Rejeitamos palavras como guerra e fome e doença e solidão. Em seu lugar, sonhamos árvores frondosas e cantares em bando e mesas fartas de pão e de poemas. Assim continuamos desenhando a estrada. Fortes e frágeis, austeros e ternos,  decididos e titubeantes, desesperados e esperançosos, humanos e imperfeitos que somos.

Bom Ano para todos.

Licínia Quitério

18.12.09

OS SINOS



Os sinos tocam. Repicam. Tangem. Dobram.  Os sinos falam. Rezam. Cantam. Riem. Choram. Chamam. Para acordar e para recolher. Para a festa e para o luto. Dão sinais. Dão avisos. Dão as boas-vindas e as despedidas. Envelhecem. Enrouquecem. Deformam-se. Têm vidas longas. Serenas. Sabem muito do silêncio. Edificam-no. Prolongam-no. Afirmam-no. Moram nas alturas e são atentos à fala da Terra. À fala dos Homens. Há quem os ame. Há quem os deteste. Não há quem fique indiferente ao seu soar. Quem os constrói sabe de fórmulas secretas. Rigorosas. Mágicas. São elas que dão voz aos sinos. Como se fossem gente. Como se fossem vida.

Licínia Quitério

6.12.09

VAI LONGE O TEMPO



Vai longe o tempo de peregrinar
por searas fartas e maduras
como se fossem mesa,
como se fossem pão.
Agora há um deserto em cada esquina
e a palavra Nunca é um desatino,
uma prega de gelo no olhar.
Porém, na madrugada há um vapor de seda
a cavalgar as pedras,
a despertar os bichos,
e os rios nos acolhem,
com seus barcos tranquilos,
seus espelhos de céu,
seu sabor a nascente.
Seguir nos dias o rumo da corrente,
com um sonho ancorado
no fio do horizonte,
um grão de sal em cada mão,
um desejo de porto
amarrado no peito.
Até dizer seara como quem diz viagem.
Até morder a vida como quem morde o pão.

 
Licínia Quitério

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