26.12.13

ACORDAMOS


Acordamos com a franja da noite
a deixar entrever restos de sonhos.
Imagens incoerentes, tempos vivos
de mortos, absurdas torres, e a fala
mil vezes 
repetida, alucinada,
em demanda de abrigo, num limiar
de opala.


Na alegria e na tristeza, restos de sonhos
alimentam a poeira da casa, da estrada,
incandescente às vezes, branca, fria,
quando a noite volta e se derrama.

Licínia Quitério

21.12.13

SILENCIOSA


Fria casa do inverno
O sol abraça
a negritude
e dela faz rio
de milagres
As árvores
presas na boca
dos esfomeados
As ervas dormentes
na quietude do grão
Recolhimento
Os olhos
desmesuradamente
abertos
que esta luz não cega nem aquece
Os dedos
encurvados
A carne contra o gelo
Os corpos
caminhantes
na lentidão do dia
Círculos
Círculos
Círculos
A tontura
antes da noite
da arca da noite
Maior a noite
Silenciosa noite
Silenciosa

Licínia Quitério

15.12.13

DÃO-SE-ME


Dão-se-me os bichos e as plantas
como se para mim tivessem renascido.
Acontece porque neles penso e me demoro.
Pequenos anjos sabedores das frestas, das falhas,
das agulhas de luz com que se rasgam sombras.
E homens grandes, também,
fugazes, tristes, imperfeitos,
bebedores de abismos,
passageiros ardendo,
indo.

Licínia Quitério

8.12.13

A ESTRADA DE CLARISSE

                               


Longe dos álbuns, Clarisse continua-se nos dias da penumbra e do regresso. Já outra, sendo a mesma, que o retrato de si se adoça e pacifica. A estrada, limpa de sombras, conta-lhe os passos, guarda-lhes o rasto, o cheiro a cravos. De Clarisse permanece inteira, atrevida, a verdura do olhar. Duas folhas vivazes em árvore de Outono. Uma ostentação, um desafio. 

Licínia Quitério 

3.12.13

DISCO RÍGIDO


É mais um livro, o quinto, que me leva os escritos e os expõe à vontade de quem os quiser ler. Este diz-se em prosas, muito várias prosas, de vários tempos e lugares, de vários jeitos de escrever, de vários tamanhos e intensidades. Nele estão  recordações ficcionadas, divagações sobre os dias, desvarios até de uma Clarisse que sonha e é o próprio sonho. Realista, poético, onírico, avulso e descontrolado, numa poeira de palavras que se juntaram na gaveta dos novos tempos, no disco rígido do meu computador, que é como quem diz, na minha memória, esse lugar estranho onde tudo cabe e por vezes se deixa espreitar, por vezes se fecha a sete chaves, por vezes para sempre. 

Licínia Quitério

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