28.11.19

ESCREVER



Por vezes, é preciso não escrever,
responder à chamada dos abismos
ainda não, não é o tempo.
Sempre havemos de voltar.
Maior que a treva, a tentação.

Licínia Quitério

19.11.19

AZUL



Não era azul claro, azul escuro,
azul marinho, azul pavão,
azul safira, azul cobalto,
azul de mar alto,
azul dos olhos de Bette Davis.
Era o azul do céu à entrada da noite,
azul manto, azul inteiro,
azul absoluto, azul azul,
azul colado nos meus olhos
esquecidos de imensidão.
Licínia Quitério

13.11.19

A CASA VELHA



Rasgões em ameaça à coesão da cal.
As plantas invasoras, vingativas, rejeitadas
pela placidez dos bosques. As cores decadentes,
tumulares.
O soçobrar do prumo nas empenas.
A desistência da onda nos beirais.

Há quem diga assim a casa velha.

A porta só no trinco, em alarde vermelho.
As trepadeiras vivas abraçando a cal.
Em cada telha um ninho ou uma espera,
um sossego, um tempo livre de traições
ou abandonos.
A respiração dos passos na soleira, 
o calor no inverno, o amor de quem partiu 
e a paz que se aprendeu.

Há quem diga assim a casa velha.

Licinia Quitério

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