22.1.20

UM CAMPONÊS




Um camponês vê os frutos ao olhar as árvores.
Aprendeu isso com a gulodice dos pássaros.
Sabe os nomes das árvores antes de nascerem
porque a terra-mãe lhos segredou
quando nela se deitou cansado de estiagem.
Um camponês não dorme sem uma árvore por perto
ainda que perto seja do outro lado do mundo.
Diz: esta é mais velha do que eu,
aquela ali tem a idade do meu filho,
Mede o seu tempo de ser árvore.

Licínia Quitério

15.1.20

OLHAR


Passamos e não olhamos
ou olhamos e não vemos
e sempre podemos dizer
que não passámos.

Foi assim contigo até ao dia
de olhar e ver e olhar de novo
e ver melhor e gritar eu vi eu vi.


Ninguém vai entender o teu grito
mas tu sabes o que viste
quando de verdade passaste
e tiveste a alegria das coisas visíveis
porque realmente as desejaste.

Licínia Quitério

11.1.20

PLENILÚNIO


Noite de plenilúnio.
O astro segura as rédeas do cavalo do frio.
Hora de invocar a protecção dos seres que se alimentam do silêncio.
Uma mancha de luz caminha em nossa frente, a desafiar lembranças de outras luas de potros alados.
Na manhã de sol, há nos rostos uma sombra, um anúncio de lua nova.

Licínia Quitério

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