Miríades de imagens na película dos dias. Rostos vagabundos na folhagem. Palpáveis os segredos muito antigos, decifrados. Os passos nas areias, o chapinhar nas águas, o gemido do amor a perceber a morte, o piar da coruja contra o chiar do rato. Altivos avançamos e os nossos pés doridos dos caminhos mais duros que a vontade de os fazer. Os olhos alagados da cor dos temporais e das bonanças. Seguimos o leito do rio inconformado e os canaviais assobiadores do vento. Porque sabemos da mulher de Lot, jamais retrocedemos, mas a dor do passado é um rasgão no ventre, uma saudade. E as imagens, em desfile incessante, a morderem os flancos, a queimarem o peito, a atarem gritos na mudez. Caminhamos na procura dos nomes e dos corpos e dos rostos vagabundos, imprecisos, navegantes nas margens de um outro rio, outra estrada, outra estação, outra galáxia, outros que somos sendo os mesmos. Miríades de imagens nos contemplam. São a película dos dias.
Licínia Quitério
Aqui deixo os meus votos de um Natal de Paz e Amor para todos os meus queridos leitores.
Licínia