23.12.15
TREM DE PASSAGEM
De passagem vamos, neste trem de ferro,
a engolir paisagens, casas,
terras que não guardam casas.
Casas a espreitar os rios.
Rios que estreamos, rios que se mostram,
rios que sabemos e se ocultam.
Pontes sobre abismos.
Provocadores abismos,
pavorosamente atraentes,
brevemente apagados.
De corrida vamos, neste trem
de partidas e chegadas.
E as paralelas a guiarem-nos.
E o trem obediente, coleante,
bamboleante.
Uma vontade de ficar, colado ao vidro,
o vidro colado ao ferro, o ferro
a correr no outro ferro, e nós
a entontecer, a paisagem desfocada,
a vontade quebrada, a mão
abandonada sobre o sono.
O trem que vai, o trem que vem,
que vai, que vem.
Que vai.
Licínia Quitério
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18.12.15
ANJOS
Bonacheirões, alados,
rechonchudos, doirados.
Pairam, espreitam, sorriem.
Podemos avistá-los numa dobra
da tarde, num adejar de pomba,
por entre cortinados.
Silenciosos, falam-nos.
De olhos fechados, olham-nos.
Imóveis, perseguem-nos.
Neles revemos a bondade,
o sossego, a leveza,
a protecção na queda,
o impulso na subida.
Rimo-nos, e é de nós que rimos
ao dizer que os anjos não existem.
Calamos o desejo de acreditar em anjos,
serenos, dadivosos, ternos.
Dizemos anjo e pensamos homem, mulher,
livres, férteis, sem dor e sem culpa,
angelicais, apaixonados,
tremendamente humanos.
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17.12.15
ÀS VEZES A GENTE VAI
Há fumos que se levantam
Mas logo um sol nos desperta
E numa pedra embarcamos
Até ao rio de frescuras
Que noite fora lembramos
Licínia Quitério
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6.12.15
A COR
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2.12.15
BEIRA-RIO
É o que assusta os peixes
carnívoros medonhos
É o que te digo hoje
e imperfeito
Licínia Quitério
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13.11.15
2.11.15
ENTRO NA TARDE
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24.10.15
NÃO, NÃO SOU
que guardo ao invés da pele.
a convocar as flautas.
a que destoa, a que desfaz
a moleza e a conformação.
da malha que a marcou.
saltamos os cerrados e corremos prados
que ninguém correu antes de nós.
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16.10.15
DOS BARCOS
regressos amarrados nos porões.
com os bornais carregados de sal.
que acrescenta os ventos e os leva de feição.
e sempre vão com os olhos cravados na proa,
cavando mares, cavando, até que a popa
se recuse ao caminho.
a âncora presa ao fundo,
o barco parado, o homem calado,
as pedras de sal a contarem os dias da última viagem.
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CELO
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29.9.15
HAVIA UMA CASA
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26.9.15
VAMOS
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16.9.15
UM ACENO
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8.9.15
SE TODAS FOSSEM PURAS
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30.8.15
DOLOROSOS OS TEMPOS
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22.8.15
DO VERÃO
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18.8.15
A MENINA
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13.8.15
O DILÚVIO
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7.8.15
LUA
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23.7.15
A MUDANÇA
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19.7.15
AMOR
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14.7.15
OS DEVORADORES
porém ignorantes do fogo que ele via,
desprezam os deuses e as águias.
e dele o oiro da passagem.
Continuam,
os homens abusando.
Licínia Quitério
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12.7.15
O SILÊNCIO
Ainda que não seja domingo, sabes?
O silêncio tornou-se um velho demente
à procura do calendário. O seu hálito
mata as abelhas que se atrevem a zumbir,
ainda que não seja domingo,
nem esta a estação das abelhas.
A mãe do silêncio tem um nome
que só se escreve com o pó
das botas dos tiranos. Este silêncio
pariu um ovo e o ovo pariu um bicho
e o trabalho do bicho é abocanhar
as manhãs de domingo
e não lhe importa que não seja domingo.
O que ele quer é calar o zumbido
de uma abelha que resiste
numa sala de luz,
além,
muito longe do território do silêncio.
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7.7.15
AS LUZES
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30.6.15
ESTE TEMPO
Perigoso este tempo de cardos e chacais.
Tempo de mendigos e assassinos.
Tempo seco e azedo que não alimenta,
não cuida, não cria.
De aves tombadas pelo caçador.
De cães abandonados pelo caçador.
Da gula dos abutres, do escárnio das hienas.
É este o tempo de partir ou ficar,
de perder ou ganhar,
de vergar ou erguer,
de se dar ou se vender.
Tempo sem penumbra,
sem copo meio.
É aviso, é anúncio,
mas os surdos não ouvem,
os cegos não vêem.
É pegar ou largar
neste tempo tão longo, tão breve,
tão audaz e tão néscio.
Outro tempo haverá.
Pode ser amanhã,
pode ser nunca mais.
A gaveta do mel, a gaveta do fel.
Qual abriremos, qual?
Licínia Quitério
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21.6.15
SOLSTÍCIO DE VERÃO
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17.6.15
AO ANOITECER
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8.6.15
DISTÂNCIA
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4.6.15
HUMANO
Nas bermas dos caminhos velhos,
no papel manchado das cartas,
no mofo das gavetas,
no toque do abandono,
no que ainda não sabes,
no que já esqueceste,
na fuga do desejo,
no sabor perdido das amoras,
no odor perdido dos amores.
Morres e revives todos os dias.
Quando o galo canta ao longe,
quando chegam notícias de primaveras,
quando as dores amortecem,
quando um riso atravessa a planície,
quando sobes à árvore com os olhos,
só com os olhos,
e os frutos te adoçam a boca.
És isto,
um corpo vivo
a percorrer o domínio dos deuses,
implacáveis,
insensatos, brutais, amáveis, serenos,
misericordiosos.
Deuses mortais,
eternos.
Humano és tu.
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