13.8.15

O DILÚVIO


Toma cuidado, amigo.

Por debaixo das pedras
há invisíveis animais,
seres de antes do dilúvio,
que houve dilúvio,
não duvides.
Depois dele ficámos assim,
emparelhados,
aturdidos de águas,
incertos no andar,
no nadar, no voar.
Salvos fomos e continuamos
a aguardar a outra salvação.
Memória não temos 
do que fomos, do que soubemos.
Disse o santo, irmão-peixe,
irmão-pássaro,
irmão-tigre,
na sua tarefa de santo
de prometer irmandade,
na sua ignorância de santo
que de feras não sabe.
Isso foi muito depois das águas,
castigadoras águas,
muito depois do gelo,
muito antes do fogo 
que virá.
Amigo, repito,
toma cuidado,
não magoes os seres 
dormentes sob as pedras.
É preciso que eles vivam
quando vier o fogo
e a ele sobrevivam,
invisíveis e mudos,
guardadores do segredo
do antes 
e do antes do antes
e do depois
e do depois do depois
e da inútil paciência dos santos
e da inútil impaciência dos pecadores.

Licínia Quitério

5 comentários:

A Rocha disse...

Olá!

Gosto muito da sua poesia, que descobri recentemente.

Quero pedir-lhe licença para publicar na minha página do face_book um poema do seu 2.º livro "De pé sobre o silêncio". Trata-se do poema "Manhã", uma pequena oração que me dá esperança... na manhã de um novo dia.

Caso não autorize basta informar-me e o poema será apagado (mas não esquecido).

Cumprimentos de um seu admirador,

António Rocha

Licínia Quitério disse...

Claro que pode. Adicione-me no Facebook para eu poder ver a publicação, OK?
Grata.

Graça Pires disse...

Olá Licínia, minha amiga. Mais um excelente poema, tão ao teu jeito...
Beijos.

Mar Arável disse...

Sempre um prazer invadir o teu espaço
Bjs

Manuel Veiga disse...

comovente de tão belo.

beijo, minha amiga

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