22.1.25

O AZUL

 É uma casa muito antiga

de pessoas muito antigas

que à janela se mostravam

com os pequenos ao colo

a acenar à senhora

que dizia olá menino

e tudo continuava

rua acima rua abaixo

e o azul da casa lá estava

dias e anos passavam

e o pequeno que cresceu

à janela se mostrava

mas já ninguém acenava

à senhora que passava

e a senhora pensava

como o menino cresceu

nem um sorriso me deu

vida acima vida abaixo

o azul continuava


 Licínia Quitério

19.1.25

TESTEMUNHAS

Esta luz este verde este azul

e os recortes da folhagem

no silêncio da tarde

como se não houvesse a estridência

nos campos de batalha

sem luz sem verde sem azul

só ramos secos por testemunhas


Licínia Quitério


7.1.25

O FIO

 Um fio que se rompeu

Foi o vento

Foi o arame

Foi a unha aguçada

Que faz o fio perdido do lençol

Ainda se os fios sofressem de saudade

Se ao menos fossem verdes

Se fossem capazes de atravessar a rua

Muita coisa podia ser

Um fio sem casa

Um fio sem irmandade

Um fio sem memória

Podia ser

vamos lá ver

Podia ser

Um fio de oiro

Esquecido do lençol

A rir a rir

Ao sol

A ensaiar um verso

Sem rimar

Sem rimar


Licínia Quitério


4.1.25

UM FRIO DIFERENTE

 Era uma vez um dia

com um frio diferente

do frio de outros dias

O dia fez-se noite

muito antes da noite de outros dias

A noite acabou como todas as noites

para abrir outro dia

com recados de sombra

Há dias assim a que chamamos noite

e trememos de frio no calor do verão

Um frio diferente de um amor diferente

que o inverno acolheu

Licínia Quitério



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