Salta fora da caminha p'ra que o Maio não possa entrar. A minha velha vizinha não se chega a levantar. Cantavam as vozes da rádio. Eu não entendia, mas trauteava.
Estás amarela. Deixaste entrar o Maio. Ralhava a avó, zeladora da continuidade dos temores ancestrais.
Para a semana vou a Lisboa ter com uns amigos. Avisava o pai, sem dizer no primeiro de Maio. A mãe suspirava e traçava um nervoso discreto no cós da saia.
Os estudantes tomaram a Sorbonne. Os operários tomaram as fábricas. O coração da Europa batia forte. Cheguei tarde. A polícia já limpara as ruas, mas senti o cheiro do novo Maio.
O povo unido jamais será vencido! O povo unido jamais será vencido! Nunca o choro e o riso se tinham encontrado para cavalgarem o rio colossal da liberdade. Estive lá.
Amanhã vou a Lisboa ter com uns amigos. Festejar o Primeiro de Maio. Digo isto bem alto. Ouvem-me?
Licínia Quitério