A buganvília secou.
Não esperou pelo solstício.
Duas vezes floria em cada ano.
Viu uma vez a neve
e decidiu que tinha visto tudo.
Desistiu.
Florir sempre também cansa.
Recusou beber a água fria
com sabor a terra e a animais
enrijeceu as hastes
despediu as folhas
e ao vento as entregou.
Quando vierem as abelhas
já não encontrarão a mesa posta.
Ficaram os espinhos e
as marcas na parede.
Não passou testemunho mas
a festa escarlate dos seus cachos
perdurará na memória das abelhas.
Levantou a louça da mesa, lavou-a e pô-la a escorrer. Ele foi sentar-se no sofá a ler o suplemento de economia do jornal diário. Esperou que ela viesse sentar-se ao lado dele. Anunciou: Vai começar a telenovela. Estranhou o toc-toc dos sapatos de salto alto pelo corredor. Tem o péssimo hábito de andar descalça. Vestida para sair. O saco de fim-de-semana ao ombro. Olhou-a mas não lhe encontrou os olhos. Só a voz: Não esperes por mim.
No bairro ganhou o nome de o Espera-a-Mulher. Na paragem de autocarro. O das dezoito e vinte e quatro. É ali que se encontram quando voltam dos empregos. Espera que saia o último passageiro. Ela às vezes distrai-se a pensar sei lá em quê e não repara que chegou ao destino. Amanhã voltará.
Aprendeu a lavar a loiça e pô-la a escorrer. Espera não voltar a ouvir o toc-toc no soalho do corredor. Já o alcatifou.
Licínia Quitério