23.12.10
IMAGENS
partilhado por
Licínia Quitério
às
8:06:00 da tarde
18
comentários
19.12.10
AJUDA-ME
partilhado por
Licínia Quitério
às
2:31:00 da tarde
10
comentários
12.12.10
CAVALEIRO TRISTE
Também eu esgrimi contra gigantes
e a minha espada não quebrou
na dureza dos ferros.
O meu cavalo emagreceu
nos pastos sobrantes das batalhas.
Guardo nos olhos a cor do pó
igual a chão e céu.
Nos ouvidos o tilintar das armas
e os urros dos gigantes
nos átrios da loucura.
Se não salvei a pátria
engrandeci o sonho.
Por minha dama resisti
ao medo e à cegueira
e defendi os fracos.
À guerra voltarei se me chamarem
cavaleiro triste.
Gosto de me sentar no campo,
ao pôr do sol,
aqui onde venci gigantes
e o vento se fez pão
e o meu cavalo solitário dorme
e a voz de minha dama ao longe,
dulcíssima,
tecendo para mim o seu cantar de amigo.
Licínia Quitério
Foto da minha Amiga Bettips
partilhado por
Licínia Quitério
às
5:29:00 da tarde
9
comentários
5.12.10
INVERNO
partilhado por
Licínia Quitério
às
7:17:00 da tarde
13
comentários
27.11.10
ACREDITA EM MIM
partilhado por
Licínia Quitério
às
11:31:00 da manhã
12
comentários
16.11.10
O CORAÇÃO DA PEDRA
partilhado por
Licínia Quitério
às
6:46:00 da tarde
15
comentários
8.11.10
POR VEZES
Por vezes tudo se confunde. As minhas mãos
são sol dentro das tuas e há cintilações nos campos
do Outono onde se guardam nuvens e esmeraldas.
Por vezes tudo se transforma. O céu cansado
mergulha na película dos lagos e adormece
em sono leve rente aos limos e às memórias.
Há um rumor de passos de ninguém e um lamento
de aves sem canto nem asilo. Há um fim de tarde
suspenso nas ramagens das árvores do Verão.
Por vezes sou o Verão a suportar a casa.
Por vezes sou a casa e acolho a sombra.
Por vezes tudo se confunde e sou a sombra.
Por vezes.
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
1:36:00 da tarde
12
comentários
30.10.10
TU SABES
Dizes que muito sabes quando te sentas na praia
e silente enfrentas céu e água e com eles relembras
artes de voar e marear como se fosses peixe
como se fosses pássaro. Conheces os fundos
das cavernas e a textura das algas que nomeias.
Já foste mastro e vela no tempo em que aprendeste
o odor e a cor dos ventos. Ouviste vozes que só
podiam vir de novas gentes. Partiste e foste casco
e abrigo de vontades, de ousadias. Foi a estrada
do mundo mulher nova que se abriu ao teu desejo
secular de possuir a terra e a fecundar. Gravaste
a ferro e sangue sinais de amor e dor nos campos
da conquista temerária. Sempre voltaste à praia
da saudade para entregar o oiro e as cicatrizes.
A mesma praia onde agora te sentas e entranças
memórias e acenas aos barcos e às gaivotas.
Perdido o oiro e o rumo, as terras saqueadas,
vais fingindo esperar o nevoeiro que não virá,
tu sabes.
Continuarás, imóvel, a inventar um sonho
possível como todos os sonhos, tu sabes.
Licínia Quitério
Respondendo a perguntas de alguns meus queridos comentadores, esclareço que todas as fotos que publico são minhas, salvo indicação em contrário. Sou assim a única responsável pela ousadia. Obrigada a todos.
Licínia
partilhado por
Licínia Quitério
às
7:26:00 da tarde
7
comentários
22.10.10
DESASSOSSEGO
de gentes cabisbaixas, com a palidez no olhar.
Num raio de sol vem um farrapo de saudade
da outra cidade em que bebemos flores
e nos embriagámos. Imóvel a barcaça que fundeou
no cais e ali ficou disposta a recolher o que sobrou
desta gente traída, espoliada do sonho, do azul.
Guardadas as palavras bem no fundo do peito
não vá alguém roubá-las e devolvê-las decepadas,
prostituídas, insonoras. Desassossego é esta
abordagem do silêncio no dobrar das noites.
Dormentes sobre os retalhos de falas coloridas,
de abraços de oiro, de coração a coração,
vamos olhando o templo e os vendilhões.
Amanhã visitaremos a barcaça, mas desta vez
não partiremos. Havemos de ficar até que a rua
esteja limpa e acolha os nossos passos remoçados,
as nossas vozes prenhes das milenares sementes
da planta que só tem um nome: Liberdade.
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
3:38:00 da tarde
15
comentários
14.10.10
ÁGUAS VIVAS
Estou só. Semicerro os olhos e vejo-te no longe,
a acenar. A tua mão é a corrente a que me prendo
por vontade, a demorar o tempo de partir.
Hei-de saber, amor, se nome tem esta batida
do meu coração dentro do teu. Vem para o pé
de mim. Senta-te no sofá que guarda a forma
do teu corpo intenso, com cheiro ao veludo das manhãs.
Fala-me mesmo que as palavras nada digam
a não ser o que sempre dissemos e continuaremos
a dizer até ao fim dos dias. Preciso da tua voz
no meu ouvido para saber o canto das marés.
Não tenhas pressa. Amanhã sairemos à rua
e seremos a febre de todas as lutas e abraçaremos
os amigos que não envelheceram, que não adormeceram
nos tapetes de flores. E nós, que nos amamos
para além do nevoeiro, há muito a encobrir a nossa rua,
beijar-nos-emos no meio da multidão, e o sol virá.
Seremos árvores até que delas fique não mais
do que um recorte em águas vivas onde repousa o céu.
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
10:52:00 da tarde
17
comentários
8.10.10
VEM DA ÁGUA
Vem da água e do sangue e do fogo aceso
pelo amor quando penetra o mesmo amor.
De um minúsculo grão se faz um homem
e a sua história é sempre igual à história
de outro homem. Nos sentidos que houver
há-de saber o mundo, mas nunca saberá
onde começa e acaba a sua própria casa.
Será máximo e ínfimo, tão perto das estrelas
como do irmão distante. Uma águia no penhasco,
quando abraça a amada, uma ameba,
uma lama quando lhe foge o filho.
Um farrapo de rua ou um rei poderoso
- o nada igual a nada.
Mineiro de metais, de versos ou memórias,
perguntará aos retratos antigos a cor dos olhos,
a explicação das coisas simples fora da sua mão.
Lutará pelo oiro das sementes e pelo banho
de luar junto das ninfas em bosques de paixão.
Partirá sem certezas, sem moedas, sem pranto,
numa nau de viagem, para o destino maior.
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
3:32:00 da tarde
9
comentários
3.10.10
DESFOLHO-ME
desfolho-me cansada de verão.
dispo-me. ofereço o corpo ao vento.
rasgo-me nas arestas da infâmia.
grito. e a minha boca é um prado ardente.
um animal sem nome. tenho sede e tenho
todos os rios da noite na cintura.
respiro. ou não. estou viva. já pari todos
os filhos de ninguém. estou só. como tu.
como todos. quero tombar como
os plátanos. com as raízes hão-de vir
as casas com gente dentro. sou cruel.
amo. amo tudo o que houve antes de mim.
tenho cheiro de lírios de caminhos.
sou pura. amo tudo o que sei e o que não sei.
libertei todos os bichos. abri gaiolas e jaulas.
tenho fome. nenhum manjar me serve.
já comi mirtilos e coentros e maçãs.
isso foi no tempo de correr os campos.
fui gazela. nunca os leões me feriram.
sou mansa. sou fúria. saiam da minha rua.
estou nua e canto. não sou pedra. sangro.
reclamo as jóias do futuro. que virão.
sou sibila.
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
10:06:00 da tarde
11
comentários
28.9.10
SÓ AS ÁGUAS
Só as águas me acalmam. Águas frias
dos deuses regressados da loucura.
Nelas mergulho as mãos ao encontro
dos peixes da alegria. Com elas vão
os olhos e as imagens daqueles dias
em que o dia foi de todos. Antes
do saque da cidade. Antes dos muros.
Antes de nos venderem o medo de ter medo
e as sete chaves para fechar o coração.
As águas me darão o santo e a senha,
o novo abre-te sésamo das portas
da abundância repartida, do amor
de mão em mão, da claridade.
No hoje espero, as mãos na água,
e com elas os olhos e os pés bem firmes
na brancura das pedras que restaram.
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
6:47:00 da tarde
15
comentários
21.9.10
SÓ O VENTO
Foto de aguarela de MANUEL ARRUDA, por atenção da Fátima.
Não é igual o chão e os pés que o conheceram estão cansados.
As casas resistiram até à nova idade. Ruínas foram de pobreza
e galhardia. Aguentaram firmes na espera do pintor que tinha olhos
e mãos para as saber. Outro o chão outras as casas outras as vozes
ou ainda as mesmas, de memória vazia. Alguém dirá um dia:
era uma vez uma varanda e uma escada e uma casa e decerto
pequenas as histórias da pequena miséria da casa tão pequena.
Mesmo à beira da casa esteve a árvore que tudo soube e calou
e à terra entregou o seu saber de sol e água e choros de gente
que só ela ouviu. Os pés cansados no chão já não o mesmo
sentirão, na descida tarde, um rumor de seivas, um adejar sem
asas, um tactear sem mãos. Ramagens de outro tempo.
Só o vento ficou.
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
4:50:00 da tarde
11
comentários
15.9.10
AS OLIVEIRAS
Nesse tempo as paredes eram todas oblíquas.
Ao razá-las as aves quebravam o limiar das asas.
Impediam os filhos de deixarem o ninho.
Nesse tempo o chão era uma onda negra,
um dorso de dragão com espinhos de cristal.
As maçãs recusavam-se a deixar as árvores
e apodreciam de medo no cansaço dos ramos.
Nesse tempo o silvo dos comboios foi destruído
pelo grito dos homens que abrasava a planície.
Foi decretada uma nova geometria e as paralelas
morreram sem se terem beijado no infinito.
Foi banido o ângulo recto e as dores se tornaram
agudas e os sonhos obtusos até à anulação.
Foi o tempo do fogo e da avidez dos corvos
sobrevoando as cinzas. Tornou-se obrigatório
o choro dos violinos e o latido dos cães.
Proibida para sempre a vertical da vida.
Mais tarde, muito tarde, vieram as oliveiras.
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
3:36:00 da tarde
18
comentários
10.9.10
SOMOS
Somos carne, somos pele, somos ossos.
Somos assombro ou sombra, luz ou treva.
Chamam-nos gente e dizem-nos:
um homem bom, uma mulher ardente,
um zé ninguém, um estorvo, uma
Maria mais de deitar sem dormir.
Têm medo de nós se somos prumo.
Fazem troça de nós se está vazia
a gaveta do oiro.
Somos sangue e suor e sémen e saliva,
as dores da terra, a pressa dos rios, as águas do amor.
E o cansaço, esta vara atravessada de ombro a ombro,
que nos sustem o corpo e nos perfura os sonhos, o desejo.
Somos tudo, somos nada, somos ontem, somos hoje.
Podemos amanhã ser a saudade e com ela fazer
uma estátua, um poema, a rosa branca de toucar,
um beija-flor, ou apenas boca que se deixa beijar.
Somos isto. Um animal que ri e chora e luta
e desanima e se reergue e abraça o dia
de vindimar, ou de cozer o pão, ou de acabar o livro
prestes a começar.
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
4:30:00 da tarde
11
comentários
1.9.10
CREPÚSCULO
partilhado por
Licínia Quitério
às
2:37:00 da tarde
17
comentários
28.8.10
COM UMA ROSA
partilhado por
Licínia Quitério
às
4:23:00 da tarde
9
comentários
25.8.10
PEDI UM NOME
Pedi um nome, ou uma rua,
ou uma aldeia, ou um país,
ou um continente, ou um planeta
mesmo pequeno, do tamanho da lua.
Todos os nomes tinham sido dados,
a rua era só uma e tinha dono,
aldeias se as havia só desertas,
um país era coisa de pouco durar,
um continente, sem guerras nem vulcões,
difícil de encontrar.
Sem ser a lua qualquer planeta poderia ter.
Deram-me um mapa,
fui seguindo as manchas,
cor a cor vivendo.
Para tão vasto mundo eu só pedi um nome.
E não mo deram.
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
2:33:00 da tarde
11
comentários
19.8.10
PAISAGEM SEM BARCOS
partilhado por
Licínia Quitério
às
10:06:00 da manhã
11
comentários
7.8.10
VOLTAR
partilhado por
Licínia Quitério
às
4:02:00 da tarde
9
comentários
2.8.10
VERDE
Não fora o verde e o nosso olhar não saberia
da dimensão do dia, da sua fúria ou calmaria,
da serena ou inquieta voz da madrugada,
da espessura ou liquidez do céu que a noite traz.
Verde a persistência da trave e do beiral
da casa nunca feita mesmo quando habitada,
do arco ou do lintel tempos depois do fogo.
No verde os pássaros se amam e compõem o canto
e a lagarta verde é o destino do verde que tragou.
Quando o sol quer o verde é também oiro
e a lua derrama sobre o verde a poalha de prata.
Verde é a alegria de todas as infâncias
por muito que o deserto as tente ressequir, escurecer.
Serão verdes os sonhos de quem nunca encontrou
a loucura, a quentura, a ternura maior que dizemos amor.
O verde é a frescura do caminho de quem sabe correr
preso a raízes, o tronco erecto, multiplicando folhas,
pintando cachos de uvas, verdes ainda, infantes,
maduras amanhã, falantes sempre do verde que as criou.
Licínia Quitério
Para a M., companheiras que somos de verdura e madureza.
partilhado por
Licínia Quitério
às
12:57:00 da tarde
20
comentários
19.7.10
PARA SEMPRE
partilhado por
Licínia Quitério
às
11:37:00 da manhã
7
comentários
11.7.10
ENLOUQUECER
músicas imprecisas de longínquas terras,
vozes esfarrapadas, ásperas, doridas,
dos homens que já viram tudo, que já calaram tudo
e têm uma navalha sobre os sonhos
e as mãos aflitas, desapossadas da forja e do metal?
Homens que levaram restos de homens pelos ares,
abriram as portas ao monstro e ao chicote,
viram o negro a rasgar-se em vermelho,
a escorrer pela savana donde os leões fugiram.
São loucos, dizem, estamos loucos, dizem.
Fizeram filhos antes de enlouquecerem
e não lhes disseram do sangue antes das flores,
das cordas, das feridas, da raiva, do medo.
Deram-lhes pão de farinhas amassadas
em águas que limparam da antiga sujidade.
Falaram-lhes de um mundo que haveria
de ter as fomes saciadas e planetas amáveis
onde seriam príncipes respeitados, beijados.
Que fazer agora deste dia em ruínas,
os fantasmas saindo dos escombros
e o desprezo dos filhos e a zanga das mulheres
e uma cruz de silêncio a apagar-lhes os gritos?
Mais logo cantarão, enlouquecidos.
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
2:28:00 da tarde
12
comentários
4.7.10
DO AMOR
Trazemos no olhar o tecido dos dias
que desejamos claro, com a suavidade
mate duma primeira e tão fugaz infância.
Navegamos mares, cruzamos ares,
resistimos à traição do escuro do abismo.
Esbanjamos desejo para dele sabermos.
Poupamos no amor para o termos inteiro,
sem importar o rosto ou o nome, que ele
é a mão e a voz e uma infinita paz, de pele
a pele, de vontade a vontade. A água sobre a água,
a pedra contra a pedra construindo a vereda,
um fogo brando, maior a luz que a chama,
a iluminar um arco de passagem até ao fim do tempo.
E para lá do fim, teimosamente, a água sobre a água.
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
1:25:00 da tarde
11
comentários
28.6.10
NOITE
E a chuva mais não fosse que
A inconstância dos teus olhos
Regando as malva-rosas
E acalmando a secura dos relógios,
Assim tu foste o despertar da terra
E a claridade das vertentes ao sul,
Mesmo que o sul não seja mar
E o amor se esconda para sempre
Na mão que te recusas a abrir.
Transportaste a tocha e o clarão
E acendeste o fogo e iluminaste
O quarto escuro e as letras do meu nome.
Por isso a chuva cai enquanto durmo
Embora seja dia, que não verei
De novo a solidão das pétalas
Encolhidas, rasgadas, chorosas
Por o sol ter falhado o encontro,
O afago, o bom-dia, a palavra
que transporta o oiro e a imensidão.
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
7:16:00 da tarde
9
comentários
27.6.10
OS MENINOS
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
9:00:00 da manhã
8
comentários
20.6.10
QUENTE FOI O VERÃO
partilhado por
Licínia Quitério
às
4:29:00 da tarde
9
comentários
18.6.10
JOSÉ SARAMAGO
Este é o tempo em que todos me morrem.
Eu não sou nada e tenho a sorte de ter amado
a grandeza de homens imperfeitos.
Por isso, hei-de voar.
Licínia Quitério
Junho de 2005
Junho de 2010
partilhado por
Licínia Quitério
às
2:16:00 da tarde
14
comentários
16.6.10
VOLTAS AO CAMPO
partilhado por
Licínia Quitério
às
8:07:00 da tarde
7
comentários
14.6.10
AUTOBIOGRAFIA
Tudo passou por mim nas noites e nos dias:
a beleza dos corpos feitos de gelo ou brasa
fossem de gente ou ave ou seixo de riacho,
mudos como o luar ou com vozes de prata.
Eram bandeiras e choros e imprecações,
marchas negras de fome e arraiais e danças
e a ternura das mães e o desejo das mãos
e a deserção dos sujos e o abraço dos puros.
Houve também as paredes da casa e a janela
e a porta, como houve as minhas dores
recolhidas, fechadas. Aberta sempre a casa
a quem trouxesse o lume e a boa nova
ou precisasse de secar a roupagem dos olhos.
Com a fragilidade de um cristal de rocha
ou a exactidão e a força de uma teia de aranha,
por tudo vou passando e tudo em mim deixando
uma mancha de sol, uma breve lantejoula,
uma folha orvalhada, uma luz partilhada,
um amigo certo, uma palavra amada
e a loucura das rosas esquecidas do deserto.
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
11:51:00 da manhã
9
comentários
10.6.10
CLARISSE 15
Foi esta uma maneira de contar a história de Clarisse, devoradora de passados e teimosamente construtora de futuros.
partilhado por
Licínia Quitério
às
8:00:00 da tarde
7
comentários
8.6.10
CAMINHOS
Nos caminhos da sombra se acoitam nossos medos.
Ah não fossem as sombras como andariam loucos,
em desatino, a desfazer a nossa gargalhada, a desatar
o nosso abraço, a apagar o lume que o amor acende,
a ocultar os astros novos que as noites nos ofertam.
Libertos ficam os indícios das pedras que a outras
pedras nos conduzem, sempre mais amáveis, mais
redondas, mais lisas, mais conforme a lassidão do
nosso andar. E as cores, as cores, que nos traçam
os mapas na pele, nos olhos astrolábios, nas mãos
oceanos de gelo, lava de vulcões, nos braços a prata
do devir dos amantes, na boca o oiro com que
se beija um filho ainda por nascer ou já entregue
às pedras e aos medos e ao brilho imenso de viver.
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
12:20:00 da tarde
7
comentários
6.6.10
PROVAVELMENTE
Provavelmente nada seria igual
se um tritão inda houvesse, meu amigo,
meu escravo, meu senhor, minha casa de mar.
Os tritões agora são de pedra,
nos lagos e nas fontes, fantasias
dos deuses depois da criação
de vaidades e ambições do tamanho do sol,
da via láctea ou da ínfima partícula
em que nenhum nome cabe para poder existir.
O tritão que eu sabia dos desenhos solares
que só as crianças constroem nas areias
era gentil e sorria quando eu o cavalgava.
Meu escravo, meu senhor, levava-me
a viver minha casa de mar com peixes
cor de luz e tudo o mais que eu não tive
que o meu amigo em pedra se tornou
e a criança assombrada na areia ficou.
Licínia Quitério
Apresento as minhas desculpas por, durante um tempo que espero breve, não visitar os vossos blogs, deixando os merecidos comentários. Grata pelas amáveis opiniões que sempre aqui fazeis o favor de expressar. Deixo-vos o meu terno abraço.
Licínia
partilhado por
Licínia Quitério
às
5:18:00 da tarde
4
comentários
31.5.10
AS MENINAS
Eram meninas e brincavam.
Inventavam a floresta
e ela acontecia.
Foram meninas e brincaram...
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
7:26:00 da tarde
16
comentários
24.5.10
SER ÁRVORE
Há um tempo que nos cabe
de sermos tronco adulto altivo
resistente à injúria e ao machado.
Raízes são olhares que deixamos
prender na solidão das casas
pejadas de gritos e abraços
e recados ao encontro do futuro.
Não me falem de ninhos, nem de sonhos,
nem de viagens, nem de contas-correntes.
Eu só quero ser árvore, ouvem bem,
árvore, com seivas elaboradas,
diligentes, cantarolando
uma húmida e suave barcarola.
Hei-de ter folhas rente ao chão
ao alcance da fome e da loucura
de quem sonhou demais e definhou.
Hei-de ter copa, sim, da matéria
das sombras que o luar constrói
na cal dos muros, nos caminhos da noite.
Depois serei colosso, serei lenho,
as seivas já sem canto, só soluço,
em debandada as sombras e os espectros.
Velha serei, mas árvore e deixarei,
viçosas, esperançosas, algumas
jovens folhas rente ao chão.
Licínia Quitério
partilhado por
Licínia Quitério
às
8:12:00 da tarde
19
comentários
16.5.10
LADAINHA EM REDOR DE UM BÚZIO
partilhado por
Licínia Quitério
às
9:30:00 da tarde
12
comentários
arquivo
-
►
2024
(40)
- dez. 2024 (1)
- nov. 2024 (2)
- out. 2024 (4)
- set. 2024 (3)
- ago. 2024 (7)
- jul. 2024 (4)
- jun. 2024 (5)
- mai. 2024 (4)
- abr. 2024 (1)
- fev. 2024 (5)
- jan. 2024 (4)
-
►
2023
(9)
- out. 2023 (1)
- set. 2023 (1)
- jul. 2023 (1)
- abr. 2023 (1)
- mar. 2023 (3)
- fev. 2023 (1)
- jan. 2023 (1)
-
►
2022
(18)
- out. 2022 (3)
- set. 2022 (2)
- jul. 2022 (3)
- jun. 2022 (5)
- mai. 2022 (2)
- abr. 2022 (1)
- mar. 2022 (2)
-
►
2021
(29)
- dez. 2021 (3)
- nov. 2021 (2)
- out. 2021 (5)
- set. 2021 (9)
- ago. 2021 (5)
- fev. 2021 (1)
- jan. 2021 (4)
-
►
2020
(31)
- dez. 2020 (3)
- nov. 2020 (3)
- out. 2020 (1)
- set. 2020 (3)
- ago. 2020 (2)
- jul. 2020 (1)
- jun. 2020 (4)
- mai. 2020 (2)
- abr. 2020 (3)
- mar. 2020 (1)
- fev. 2020 (5)
- jan. 2020 (3)
-
►
2019
(26)
- dez. 2019 (3)
- nov. 2019 (3)
- out. 2019 (3)
- set. 2019 (3)
- ago. 2019 (2)
- jul. 2019 (3)
- jun. 2019 (1)
- abr. 2019 (2)
- mar. 2019 (3)
- fev. 2019 (1)
- jan. 2019 (2)
-
►
2018
(41)
- dez. 2018 (4)
- nov. 2018 (3)
- set. 2018 (3)
- ago. 2018 (1)
- jul. 2018 (4)
- jun. 2018 (7)
- mai. 2018 (3)
- abr. 2018 (4)
- mar. 2018 (2)
- fev. 2018 (4)
- jan. 2018 (6)
-
►
2017
(56)
- dez. 2017 (5)
- nov. 2017 (3)
- out. 2017 (3)
- set. 2017 (4)
- ago. 2017 (5)
- jul. 2017 (5)
- jun. 2017 (3)
- mai. 2017 (6)
- abr. 2017 (5)
- mar. 2017 (4)
- fev. 2017 (4)
- jan. 2017 (9)
-
►
2016
(46)
- dez. 2016 (7)
- nov. 2016 (7)
- out. 2016 (4)
- set. 2016 (4)
- ago. 2016 (1)
- jul. 2016 (4)
- jun. 2016 (5)
- mai. 2016 (6)
- abr. 2016 (1)
- mar. 2016 (1)
- fev. 2016 (2)
- jan. 2016 (4)
-
►
2015
(50)
- dez. 2015 (5)
- nov. 2015 (2)
- out. 2015 (3)
- set. 2015 (4)
- ago. 2015 (5)
- jul. 2015 (5)
- jun. 2015 (5)
- mai. 2015 (4)
- abr. 2015 (7)
- mar. 2015 (6)
- fev. 2015 (2)
- jan. 2015 (2)
-
►
2014
(60)
- dez. 2014 (4)
- nov. 2014 (5)
- out. 2014 (4)
- set. 2014 (4)
- ago. 2014 (5)
- jul. 2014 (6)
- jun. 2014 (5)
- mai. 2014 (7)
- abr. 2014 (3)
- mar. 2014 (7)
- fev. 2014 (4)
- jan. 2014 (6)
-
►
2013
(48)
- dez. 2013 (5)
- nov. 2013 (3)
- out. 2013 (5)
- set. 2013 (5)
- ago. 2013 (7)
- jul. 2013 (4)
- jun. 2013 (5)
- mai. 2013 (3)
- abr. 2013 (1)
- mar. 2013 (3)
- fev. 2013 (3)
- jan. 2013 (4)
-
►
2012
(52)
- dez. 2012 (4)
- nov. 2012 (4)
- out. 2012 (6)
- set. 2012 (2)
- ago. 2012 (4)
- jul. 2012 (6)
- jun. 2012 (4)
- mai. 2012 (4)
- abr. 2012 (4)
- mar. 2012 (4)
- fev. 2012 (5)
- jan. 2012 (5)
-
►
2011
(60)
- dez. 2011 (5)
- nov. 2011 (3)
- out. 2011 (6)
- set. 2011 (6)
- ago. 2011 (6)
- jul. 2011 (3)
- jun. 2011 (5)
- mai. 2011 (7)
- abr. 2011 (4)
- mar. 2011 (8)
- fev. 2011 (3)
- jan. 2011 (4)
-
▼
2010
(54)
- dez. 2010 (4)
- nov. 2010 (3)
- out. 2010 (5)
- set. 2010 (5)
- ago. 2010 (5)
- jul. 2010 (3)
- jun. 2010 (9)
- mai. 2010 (4)
- abr. 2010 (5)
- mar. 2010 (3)
- fev. 2010 (4)
- jan. 2010 (4)
-
►
2009
(54)
- dez. 2009 (3)
- nov. 2009 (3)
- out. 2009 (3)
- set. 2009 (5)
- ago. 2009 (4)
- jul. 2009 (7)
- jun. 2009 (4)
- mai. 2009 (5)
- abr. 2009 (3)
- mar. 2009 (6)
- fev. 2009 (5)
- jan. 2009 (6)
-
►
2008
(55)
- dez. 2008 (6)
- nov. 2008 (5)
- out. 2008 (5)
- set. 2008 (4)
- ago. 2008 (4)
- jul. 2008 (4)
- jun. 2008 (5)
- mai. 2008 (5)
- abr. 2008 (5)
- mar. 2008 (4)
- fev. 2008 (4)
- jan. 2008 (4)