22.9.22

IMPREVISIBILIDADE

Este não é o tempo de prever

É o tempo de ver como nunca se viu

Incerto o tempo futuro como sempre foi

Acabou-se o tempo dos adivinhos

o tempo dos profetas

Dos deuses nem se fala que perderam

os manuais de perdões e castigos

A chuva ou o tufão não se anunciam

As guerras não sabem de vitórias ou derrotas

Constante apenas o nascimento

dos filhos das mulheres, dos homens

porém sem tempo certo, sem aviso

Um pé depois do outro devagar

que o caminho não fala de chegada

e a ideia de regresso foi esquecida

É este o tempo de aprender

o tempo nosso de cada hora

o pão de todos enquanto é dia


Licínia Quitério

2.9.22

SETEMBRO

 

E vem mais um Setembro
com a memória do restolho ardido
na passagem do incêndio
na passada da guerra
Traz o olhar soturno este Setembro
como se anunciasse derrocadas
desertos
vinho azedo
dilúvios
como se fosse profeta ou adivinho
como se não soubesse
da crueldade
a assolar todos os Setembros
quando o leite das mães se faz coalho
as fontes secam
as aves esquecem a partida
Vergado este Setembro
ao peso da estiagem
o passo incerto
de quem já muito andou
e ainda arrisca
outra viagem
na busca duma flor
entre os escombros

Licínia Quitério


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