28.12.20

LADAINHA PARA O ANO NOVO



ele sabe do ano que está no fim
e do outro e do outro
que findaram muito antes
de ele aqui chegar
tem os pés cansados
de contar os metros
que tem a rua
que o tem a ele
que não tem mais nada para contar
a não ser a história
dos seus pés cansados
que nem sequer é uma história
apenas uma verdade
sobre uns pés
de atravessar os anos
de atravessar a vida
de atravessar a rua
que o tem a ele
que não sabe quantos metros ela tem

Licínia Quitério

22.12.20

A IDADE


De Verão calçava sabrinas vermelhas, de bailarina.
Os lábios pintados de vermelho, a condizer.
Estava bem, diziam, para a idade.
Ela sorria ao cumprimento e entristecia ao dobrar a esquina.
No Outono calçava botas altas, brancas.
Os lábios sempre vermelhos.
Continuava muito bem, para a idade.
Ela sorria ao cumprimento e entristecia ao dobrar a esquina.
No Inverno usava chapéu preto, de aba larga.
Os lábios sempre vermelhos.
Que bem estava para idade.
Deixou de sorrir ao cumprimento e de entristecer ao dobrar a esquina.
Na Primavera, era uma mulher sem idade.

Licínia Quitério

13.12.20

DEZEMBRO

 



Dezembro, mês de folhas afogadas nas bermas onde agora ninguém passa. Mês das romãs do nosso calendário com seus bagos de sangue à espera da explosão.
Dezembro de velhas estrelas nas hastes das corças para que aconteça um estrépito na noite.
Mês de florestas violadas nos últimos incêndios onde o verde é uma lenda do setentrião.
Em Dezembro fala-se da morte para que tudo renasça.
É o tempo para uma gargalhada a assombrar os gestos da cidade. Licínia Quitério

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