23.9.24

O BOSQUE

 Verde o bosque que passeámos.

Tudo tínhamos

do chá de menta à varanda do estio

de Jacques Brel ao grito dos pavões

das tuas palavras claras aos meus versos infantes.

A verdura dava-nos o sorriso de mãe

e o abraço de amante.

Tínhamos o nome do bosque

inscrito na palma da mão.

Estávamos a salvo dos salteadores de futuro.

 

Foi depois do incêndio

que percebemos a cor do desalento.

O chá de menta amargou

e tudo ardeu

as tuas palavras claras e os meus versos infantes.

A verdura fez-se noite

mas o nome do bosque continua 

na palma da minha mão.

 

Licínia Quitério 


15.9.24

A VARANDA

 

Uma varanda ou peito de pomba

observa a intenção do vento

divisa o longe que humanos não alcançam

Só o céu conhece a hora exacta da largada

antes que a noite venha e a pomba se confunda

com  o peito imóvel da varanda


Licínia Quitério

8.9.24

BALADA

 

a gente passa

a água cai

e eu a ver

sem perceber

que tempo faz

que hora é

há um desacerto

há um engano

há um enredo

e a gente passa

e eu a ver

e a água cai

há uma balada

há uma toada

há uma batida

rente à janela

passa apressado

um coração

e eu sem ver

sem perceber

que a vida vem

que a chuva cai

que a vida vai


Licínia Quitério


 

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