29.3.22

PALAVRAS NOVAS

 

Precisamos de palavras novas

limpas de violência e de perjúrio

Palavras breves libertas da rouquidão

encharcadas de sol e de abundância

Estamos cansados de palavras velhas

carregadas de pólvora e botox

a pesarem na surdez dos rebanhos

Havemos de fazer a festa das palavras

se elas enfim chegarem e contarem

com que sílabas calaram

a infame ladainha dos guerreiros

sobre as ruínas metodicamente construídas


Licínia Quitério

26.3.22

A GUERRA

 

Nasceu da raiva dos vulcões

da inclemência da tempestade

da secura das florestas

a guerra

alimentou-se do leite azedo das mães

do sangue arrefecido dos soldados

da desmesura dos imperadores

a guerra

cresceu para ser dona das casas

das ruas das cidades dos países

para secar os rios

para queimar os corpos

para rasgar os mapas

para apagar os nomes

a guerra

ergueu altares ao ódio

à doença à fome

à morte de inocentes

a guerra

declarou-se invencível

universal eterna

obedecida e venerada

a guerra

esqueceu-se do amor

e definhou

a guerra


Licínia Quitério

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