23.1.21

PERDIDOS



Que foi que nos aconteceu,
país de fado e saudade e poetas e visionários?
País de frases feitas, não há-de ser nada,
não há mal que sempre dure,
e tudo está a acontecer
e não se sabe como nem quando acabará.
"Pode haver quem te defenda
quem beije o teu chão sagrado
mas a tua vida não."
Perdidos no labirinto, estamos.
Como seremos depois do pó, das cinzas?
Um povo somos igual a outros mais,
mas a si mesmos desiguais.

Licínia Quitério

18.1.21

NÃO PASSARÃO

 


Daqui desta Lisboa à beira Tejo
Daqui deste silêncio feito pedra
Desta tristeza vil sem ter poetas
Daqui eu vejo o antes e o agora
E o depois em palco de neblina
E eu tremo e conto histórias
Que ninguém quer ouvir
Mas a voz que me guia não desiste
E solto imprecações e solto versos
Que outras armas não tenho
Senão a liberdade de gritar
De pé, meu pobre coração
Eles não passarão

Licínia Quitério

5.1.21

ABSURDO

 


Este sol absurdo
a incandescer telhados
e vidros das janelas
e nós absortos
perguntamos
quando será aberta a praia
aberto o mar
para podermos navegar
quando seremos mão da outra mão
pele da outra pele
e o sol absurdo brilha
e faz brilhar a onda
a escama
a fruta do inverno
e nós absortos
vamos enrouquecendo
sem o mel na voz
vamos esmorecendo
sem o sal na pele
e este sol absurdo
a iluminar a praia
e nós absortos
sem poder navegar

Licínia Quitério

1.1.21

LONGE

 


E o Mundo fez-se espanto

E o espanto fez-se medo

Montámos o cerco

Dentro dele gaiolas

Os pássaros entravam

E saíam

E nós no lugar deles

Espantados

Temerosos

Ignorantes

Esperávamos

No silêncio

Pensávamos distância

 

E o perto fez-se longe


Licínia Quitério

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