25.9.20


 

21.9.20

VERÃO

 Anda por aí, de porta em porta, em despedidas.

Não é como o pai natal.

No saco não traz presentes

mas ameaças.

Diz, envolto num pano de vento:

Portem-se bem,

não abram os armários da ternura,

esqueçam tudo o que aprenderam sobre o amor.

Se assim fizerem,

voltarei para o ano a visitar

as vossas cidades de gelo.

Há quem lhe chame o medo.

É apenas um Verão

que aprendeu a mentir.

 

 Licínia Quitério


5.9.20

HAVEMOS DE VOLTAR


 Havemos de voltar deste degredo

com a bagagem que guardámos

a salvo da inclemência e da usura.

A nossa pele terá envelhecido

esquecida do calor do outro corpo.

Proibida a volúpia

as nossas mãos serão maiores 

porque espalmadas longo tempo

nas coxas, nas mesas,

nos vidros das janelas.

Na aprendizagem das fronteiras

soletrámos medo com as letras

que dantes nos diziam amor

ou ousadia.

Havemos de voltar da guerra

sem saber para que servem

os braços ou os lábios

a não ser para  funções de sobrevida.

Por muito tempo havemos de temer

o irmão, a mãe, o filho,

todos capazes de nos matar

com a arma invisível 

que o seu sangue transporta.

Voltaremos do palácio da demência

à casa donde nunca saimos

e nada contaremos da viagem.


Licínia Quitério

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