Pouco basta para que
um astro se acenda
sobre a mesa da tarde
Pode ser o fio de voz
de uma menina
e as suas mãos morenas
segurando um poema
que escreveu
Vendo bem não são as mãos
antes projecto de asas
Sejam sempre bem-vindos
os pardais
São aos milhares. Disputam poisos nos ramos das árvores da praça centenária. Um coro de piados estridentes encorpa e inunda os ares e as ruas e as casas em volta. São os pardais de fim de tarde. Qual deles deu o toque de recolher? Com que sinais dizem "vamos dormir"? Ficam mudos quando a noite se instala. São folhas de sangue quente nas árvores despidas pelo inverno. Perto dali, uma criança diz um poema. Não é que me pareceu um pardalito, desprezando a noite, a despertar?
Licínia Quitério