tens de sentir o respirar da terra.
não há outra evidência sobre a vida. tens de acreditar na dança diurna das estrelas.
não terás outra vantagem para o amor.
duvida sempre da perenidade das águas no teu rio,
da persistência da alegria no teu andar de corça.
tens de estar atenta ao calendário das marés
se queres saber a soma dos teus passos.
olha as chagas nos ombros da velhice e,
se vires a fragilidade das perpétuas roxas,
foge da vidraça e espera o riso.
ele há-de passar rente à janela.
depois enrola-o no pescoço e diz
agasalho como se dissesses
recomeçar ou abrir os olhos no primeiro verão.
Licínia Quitério