Caminham sempre até os pés se gastarem, até se perderem dos filhos, das mães.
Já esqueceram palavras que digam casa, água, riso.
Aprenderam fome, tortura, ódio que foi tudo o que lhes deram para a viagem.
Caminham sempre, sobre o gelo, sobre a areia, sobre o fogo, até os pés se gastarem.
Vão em direcção à terra prometida pelos deuses que lhes disseram do leite e do mel.
Sacrificaram os animais, as mulheres, as crianças, para aplacarem a ira dos cobradores de impostos.
Se for preciso atravessam os rios ou adormecem na correnteza e por lá ficam iguais aos peixes seus irmãos.
Caminham até ao mar azul que não se abre para os deixar passar.
Confiam nos barqueiros, dão a moeda, a última, o salvo-conduto para a terra do esquecimento.
Os que não pagaram continuarão a caminhar até avistarem o império e os seus muros.
São da Terra dos deuses que não pagam promessas.
Dali não passarão, os malditos.
Licínia QuitérioFoto da net