Foi à voz que me prendi. Traz o veludo do musgo onde apetece rolar para depois nos erguer no canto do rouxinol. Tem pausas que convidam a entrar, a encetar acordes nunca ouvidos. Liberta um impreciso aroma que procura o meu cabelo e se aconchega no travesseiro da noite. A uma voz assim dá-se colo e carícias de menino. Não é bem uma voz, é um fio de prata a ligar o visível ao invisível, o profano ao sagrado, o corpo limitado à imensidão. Não, não se trata de amor, mas de vertigem, fonte do inominado e inominável, vibração da erva antes do vento, sonoridade havida antes da morte, antes da vida.
Licínia Quitério