Sim, vou continuar. A casa vai-se desmoronando e nós esquecemos os ofícios com que se ergue a casa. É preciso voltar ao princípio, à gruta onde tudo começou, mas desaprendemos os caminhos da planície. Achámos que o olvido era o segredo para a alegria, mas perdemos a chave do segredo. Com que vontades rasgarei a tela poluída que encobre as constelações? Com que ânimo sustentarei as novas pedras e as darei umas às outras e lhes direi vós sois a nova casa? Sei, tenho de continuar, presa aos ritmos naturais dos rios, às vozes das feras e das pombas, antes do colapso, antes de a ferrugem se apoderar dos ossos, porque depois nenhum véu há-de querer mascarar a ruína.
Licínia Quitério
2 comentários:
Excelente como sempre a luz das suas palavras
No meu espaço tomei a liberdade de publicar uma foto nossa
aquando da sua iniciativa
de promoção da poesia
Bj
temos que renunciar ao Espectáculo e o Excesso e cultivar os ritos e ritmos que são matriz...
sabedoria. a tua.
beijo
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