Voltas ao campo, à horta, ao tanque, aos animais,
como se alguma vez ali tivesses pertencido.
Dizes ruína, mas nunca conheceste a infância
das pedras e da cal e do carinho dos homens.
O cheiro dos coentros traz-te lembranças
das ervas que nunca pisaste que o teu lugar
sempre foi o casulo das cidades cansadas
onde deixaste os passos e as esperas.
O telhado está roto, dizes, mas nunca lhe
soubeste a inteireza com que afrontava
o vento e o orgulho com que estancava
a chuva. Agora tens a solidão nos olhos
e os braços vazios e a memória a pesar
nos ombros e na fala com que dizes voltar.
Perdeste o tempo e o lugar e o cantar
dos pássaros. Cidade foste tu e o teu modo
de abraçar o mundo. Só o amor te salvou
e te mostrou o caminho de volta. Esse que hoje
desbravas e constróis no abrigo das arcadas
protectoras do sol abrasador que te esperava.
Licínia Quitério
7 comentários:
Deixa um tom de saudade, um querer ficar nestas "Voltas ao Campo" para fugir à solidão da cidade, à monotonia do hoje, em direcção a um passado-ilusão.
L.B.
Continuo a gostar do que screve. Um abraço
Lindo demais, Licínia!
Que bom que encontrei este teu espaço tão especial!
Voltarei sempre...
Grande abraço
Um poema que nos lembra o abandono do campo pela cidade e a nostalgia serena e dorida do regresso...
Muito belo!
Um beijo,Licínia.
Como eu te compreendo
Sempre muito belo
e substantivo
Bj
que olhar melancólico sobre o ninho deserto no coração dos homens.
há quem diga que só a inteireza da terra restitui a verdade inicial.
___
beijo Licínia
Pois é, Licínia, tanta coisa que se perde dentro da ilusão ou do que se não vê. Ou então tudo tem o seu tempo. Talvez seja só isso, ou também isso.
Gostei muito.
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