10.9.10
SOMOS
Somos carne, somos pele, somos ossos.
Somos assombro ou sombra, luz ou treva.
Chamam-nos gente e dizem-nos:
um homem bom, uma mulher ardente,
um zé ninguém, um estorvo, uma
Maria mais de deitar sem dormir.
Têm medo de nós se somos prumo.
Fazem troça de nós se está vazia
a gaveta do oiro.
Somos sangue e suor e sémen e saliva,
as dores da terra, a pressa dos rios, as águas do amor.
E o cansaço, esta vara atravessada de ombro a ombro,
que nos sustem o corpo e nos perfura os sonhos, o desejo.
Somos tudo, somos nada, somos ontem, somos hoje.
Podemos amanhã ser a saudade e com ela fazer
uma estátua, um poema, a rosa branca de toucar,
um beija-flor, ou apenas boca que se deixa beijar.
Somos isto. Um animal que ri e chora e luta
e desanima e se reergue e abraça o dia
de vindimar, ou de cozer o pão, ou de acabar o livro
prestes a começar.
Licínia Quitério
partilhado por Licínia Quitério às 4:30:00 da tarde
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11 comentários:
Lindo como aliás os outros já publicados! Gosto muito tb das ilustrações. Parabéns. Um beijo
Do (re)começo. Um beijinho aqui do lado junto ao mar.
Olá, Teimosita, por aqui? Muito obrigada pelos seus elogios. Apareça sempre. Um beijo.
Amiga querida, tuas palavras, como as que recolhi agora do "Relógio de Pêndulo", umas e outras, água da chuva que sorvi gota a gota.
Grato, de coração.
Deixo um abraço fraterno.
PS. Não esqueci o projeto de um programa radiofônico lusófono. Questão de tempo. Logo, logo entro em contato.
Excelente.
Gosto muito da sua poesia.
Magnífico grito de compreensão e humanismo. De poesia!
emplogante. e belo.
excelente se ouvido declamado no palco da vida...
beijos
"Somos tudo, somos nada, somos ontem, somos hoje." Belíssimo, Licínia. Somos. E poetas nos chamamos...
Um grande beijo.
Fantástico, Licínia!
exaltante Poema, Licinia.
a Poesia é beleza e arma. em tua mão. firme...
beijos
... somos isso tudo! mas que bom que isso é!!
Se assim não fôssemos, clamaríamos para o ser, o ser que sempre* seremos.
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