Eram meninas e brincavam.
Inventavam a floresta
e ela acontecia.
Escondiam-se e um manto
de asas de anjo as encobria.
A noite era um sítio longe
e o dia brotava-lhes das mãos.
Escutavam as árvores,
o namoro das copas.
As meninas tinham caixas
de guardar segredos
com chaves pequeninas,
invisíveis.
Nelas dormiam os cavalinhos brancos
de galopar, de galopar.
As meninas apressam-se a crescer.
Apagam as florestas antes que a noite chegue.
Já não se escondem, as meninas.
Souberam que não há anjos sem asas.
Deitaram fora as caixas dos segredos.
Foram-se embora os cavalinhos,
a galopar, a galopar.
Estão tão grandes as meninas.
Pequeninas ficaram as chaves
invisíveis,
para que o vento as leve
mundo fora, a voar, a voar.
Foram meninas e brincaram...
Licínia Quitério