27.2.20


23.2.20

POMBO


Que vês tu, pombo, desse teu cesto de gávea?
Sentes-te a salvo das ondas e dos mareantes de novas naus?
Pensas que o céu é o teu protector em dias de procela?
Será que esse teu olho é uma opala que o grande fogo te ofertou?
Sabes que pergunto porque há muito esqueci as respostas?

Adeus, eu vou em busca de outras aves.


Licínia Quitério

10.2.20

LUSCO-FUSCO



Ao lusco-fusco a indecisão das cores
traz-nos paisagens de cidades
que nunca passeámos,
mas contemplamos na penumbra do adormecer
com os olhos cansados de certezas,
de exactidão.
Ao lusco-fusco pensamos paz
e amaciamos a palavra
com um vapor de nuvem.
Os braços aconchegam o voo dos pássaros.
Acendem luzes na cidade.
Na casa da noite já se pôs a mesa,
já se fez a cama.
É a hora do anil e da saudade.

Licínia Quitério

8.2.20

O TRAÇO


Sulcar as águas é privilégio de ser barco.
O caminho traçar e apagar continuadamente.
Fazer e desfazer, seguir em frente,
sem se voltar, nunca retroceder.
Aproveitar o vento ou a maré ou a corrente.
Desaparecer  por trás das nuvens.
Nos olhos dos homens a memória
de um traço contínuo sobre as águas.


Licínia Quitério

1.2.20

UM ILHÉU


Posso 

amar um rochedo, um ilhéu,
na contraluz do sol nascente,
na afirmação do dia,
na lâmpada do sol poente.
Posso 

amar um rochedo, um ilhéu,
possui-lo de longe, amante incerto,
respiro do oceano.
Posso 

amar uma árvore, uma voz,
uma varanda sobre a serra.

Posso
amar a 
presença e a ausência,
o eterno e o instante.
Posso
amar.


Licínia Quitério

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