Juro que era cinzenta quando a conheci
a cidade
Toda de pedra
geométrica tão geométrica
feita para eu me perder
na volta duma quadrícula
O rio fazia o seu desenho e seguia
indiferente à exactidão da cidade
Quase sempre cinzento
o rio
a não ser num único poente
em que o encontrei distraído a colar escamas de luz
nas pontes
Amei a cidade cinzenta
Voltei e voltei à cidade cinzenta
até deixar de ter medo de me perder
na geometria
Sempre encontros marquei na tal hora do poente
quando o rio se distrai por me ver e acende
a água
e desenha nas pontes meias luas
Agora quando penso na cidade
sei que cinzento é a cor das cidades que amamos
quando pela primeira vez as visitamos
Para não me repetir passei a dizer pessoas e não cidades
Licínia Quitério