26.6.06

FAZ DE CONTA


Antoine de Saint-Exupéry - Aguarela

Jogar ao faz de conta com a vida.
Dizer fizeste bem a quem me deixou mal.
Falar do vento forte no meio da calmaria.
Recomeçar a obra de costas para o fim.
Fazer a festa ao cão antes de o ver chegar.
Pular na nuvem quando pisar o asfalto.
Brincar às escondidas no deserto.
Sentir o negro e afagar o branco.
Prender a lantejoula por debaixo da pele.
Enunciar o cheiro das flores por nascer.
Cantar ao desafio com a própria voz.
Trepar à amoreira e anunciar a seda.
Olhar o velho sentado no degrau e
Dizer de um barco que acostou no cais.
Acreditar que o sino é um seno a soar.
Quedar-me à beira-morte e dizer beira-mar.



"...- Se fazes favor... desenha-me um carneiro...
Quando o mistério nos impressiona demais, não ousamos desobedecer. Por muito absurdo que tal me parecesse, a mil milhas de distância de qualquer lugar habitado e em perigo de morte, tirei da algibeira uma folha de papel e uma caneta. Mas, lembrando-me de que tinha estudado principalmente geografia, história, cálculo e gramática, disse ao homenzinho (com um ligeiro mau humor) que não sabia desenhar. Ele respondeu-me:
- Não tem importância. Desenha-me um carneiro."

Que tem a ver este pequeno excerto de "O Principezinho", de Antoine Saint-Exupéry, com o meu texto acima e o título "Faz de Conta"?

Convenhamos que, quando a lógica da vida não funciona, o absurdo é um caminho tão válido como qualquer outro.
Façamos então de conta. Eu faço versos sem o saber dos Poetas. O Principezinho, sem saber desenhar, desenhou um carneiro. Às vezes resulta...

Licínia Quitério

19 comentários:

Anónimo disse...

Podes fazer versos sem o saber do Poeta, mas és uma pessoa especial, sim!...A vida é mesmo assim, feita de contradições e são elas que embelezam a nossa vida e nos fazem rir e chorar!...Bonitas as tuas palavras e dizer sempre à beira- morte que estamos à beira-mar!...
Beijo.

aquilária disse...

ao que tu chamas "absurdo", neste contexto, eu chamo "imaginação". em crianças sabemos perfeitamente fazer uso dessa capacidade. seria bom não desaprendermos essa arte, com o passar do tempo.
agora, uma frase muito batida: nao será o poema que tantas vezes TE escreve?
um beijo, licínia.

Non disse...

Gostei muito.:)

Obriggada pela visita

alice disse...

querida licínia,

é uma caixinha de surpresas e das boas

a fazer de conta com absurdos que no fundo são tão respiráveis

cada vez gosto mais de si

um grande beijinho,

alice

Maria P. disse...

faz de conta que afinal isto é viver...

beijinho, gostei muito sinceramente.

JPD disse...

Muito bonito!
Bjs

Era uma vez um Girassol disse...

Sabes bem demais "poemar"...
Poeta já és, quer queiras ou não!
Porque tens a poesia na tua alma e no teu corpo. Podemos senti-la, tão forte emana essa inspiração e palavras sábias que escreves.
Nem precisas fazer de conta...
Adorei este teu poema.
Beijinho

GTL disse...

Façamos de conta que os pincipes somos nós, ;)

MDB

Titá disse...

Adorei.
Nomeaste aqui um dos meus livros preferidos e de uma forma genial.
Sabes?..." o essencial é invisivel aos olhos, tens que ver com o coração"...aprendi isto neste livro e posso dizer-te que o meu coração reconhece em ti alguém extraordinário.
bjs e boa semana

Hortência disse...

fazer de conta nos permite os vôos que ainda não sabemos realizar.
Não se impressione quando atingir o impossível.
Fazer de conta, às vezes, é atingir o impossível (impulsionarmo-nos no desejo que determina a existência das coisas).
grande abraço

alice disse...

querida licínia

agradeço as suas palavras de incentivo no último post, espero ser merecedora

agradeço, licínia

beijinhos,

alice

Helder Ribau disse...

vim visitar-te... desculpa a ausencia...

Joaquim Amândio Santos disse...

"
GRITO

ouçam
na plenitude dos tímpanos,
sem quebras de escuta.
ouçam bem
a voz que vos chega erguida
nos parametros do silêncio.
sintam-na
que no ar paira
brotando num gemido,
exalando numa súplica,
pugnando em prece pela ousadia.
eis o desafio:
pulsem
para lá do bafo
em cada simples respiro,
para que vivam a liberdade.

para que finalmente vivos,
ousem sonhar!
"

JAS, 2006

lique disse...

Ora, e se não é o "faz de conta", como espalharemos o sonho nas agruras da vida?
Tu fazes poesia sem o saber dos Poetas? Sei... :)
Beijinhos

http://mulher50a60.weblog.com.pt

Alberto Oliveira disse...

... resulta sempre que quisermos; se o fazemos cá de dentro e acreditarmos em nós. O que por vezes acontece, é que nem sempre sai como prentendíamos; mas a isso chama-se "ossos do ofício".

beijinhos.

tb disse...

...e a magia acontece!...
Beijinho

Fátima Santos disse...

e é tudo uma questão de se gostar!

sophiarui disse...

o absurdo é aquilo que nos move...

um abraço apertado Licínia

Vasco Pontes disse...

Tardio,mas sentido, bom poema, poetiza!

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