Não sabemos a dor dos peixes
quando seca o lago em pleno verão.
Premonições tiveram
e amorteceram cintilações nocturnas.
Enfeitaram de escamas o relevo dos fundos
a assegurar refúgio às últimas frescuras.
Por entre o lodo chegaram
outras guelras, outras mãos
e o novo tempo lhes chamou anfíbios.
Têm o ar robusto dos sobrevivos.
Desconfiam da firmeza da terra.
Vão pedindo à chuva notícias do lago.
Só ela sabe quanta devastação.
Licínia Quitério
18 comentários:
Um poema que vai subindo de tom como uma melodia - incansável a luta das palavras. Belíssimo!
a vida é assim - o que não mata robustece...
regressaremos. mais fortes e solidários!...
admirável poema. beijo
Deve ser por causa do Mosteiro e do seu efeito! Blimunda sábia e a Passarola...
Uma alegria encontrar-te assim na estrada, sobrevivente, forte, doce (não severa, severa sou eu!), interveniente, premonitória da seca? A terra vermelha duma ilha e uma casa de sol, lavar-se no mar para poupar a água...era preciso viver assim para que a natureza fosse amaciando a carne, o cabelo, a doença...
Beijinho
a água em lodo o sol abrasa
tira vida, transparência, luz
na sua superfície já reluz
um corpo resequido e sem casa
abraço
luísa
Pressinto algum desalento na beleza crepuscular do teu poema.
Emocionante, contudo, e forte.
Bom fim de semana
sobrevivência
no estado sólido!
um beijo.
Só os que lutam sobrevivem...
Um beijo Licínia.
Requintado. É o que sei dizer do teu poema.
o TEU LAGO
ESTÁ VIVO
CANTA
SOLIDÁRIO
LEVANTA-SE DO CHÃO
Um belo poema onde se lê angústia e sufoco porque imaginar a dor dum peixe fora do seu elemento é exercício impossível a um humano.
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Noutro contexto (menos dramático) devo dizer que me faz alguma impressão ver no prato um peixe inteiro como é o caso das sardinhas -que morrem óbviamente de desregulada tensão arterial, tal o sal com que as cobrem, ou das pescadinhas de rabo na boca, que entregam a alma ao criador, após sofridas práticas torturantes abjectas. Não sei porquê mas acho que esta noite vou ter algum sonho horrível com milhares de peixes a serem dizimados
Amanhã vou comer carne de porco à alentejana amanhã vou comer carne de porco à alentejana amanhã vou comer carne de porco à alentejana amanhã vou comer carne de porco à alentejana amanhã
beijinhos.
“Não sabemos a dor dos peixes
quando seca...”
sabemos a dor dos outros
quando nossos olhos se orvalham?
os versos que nos chegam d’um sítio nunca visto
mitigam a sede de quem sede de versos tem.
grato, Amiga: de coração.
guelras a procurar respirar :) um grande beijinho, licínia.
Protegeram-se e sobreviveram. Esperam o lago. Virá, um dia.
Belíssimo poema.
“Não sabemos a dor dos peixes
quando seca...”
não sabemos...
Lindo poema. Parabéns.
Eduardo Aleixo
( À Beira de Água )
Desconhecemos a dor alheia sempre, por muito próxima que nos esteja.
Beijos.
respiramos pó
água respiramos
[ às vezes
nada
beijO
Peixe sou.
Beijinho.
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