A Terra gira no sentido inverso
ao dos ponteiros dos relógios.
Foi assim que aprendi na Primavera.
Escrevia-se Terra com maiúscula.
De vida, com minúscula,
só me falaram já se dizia Verão.
Os relógios, coitados, de tantas rotações
e translações, enlouqueceram.
E a Vida gira e continua a ser medida
nos Outonos repetentes da paixão.
E a Terra gira e no Inverno
já se vislumbra o eixo. E há-de chegar
a hora de os relógios se acertarem
pelo incerto bater do coração.
Licínia Quitério
Música: Edith Piaf - Les Trois Cloches
18 comentários:
E essa será a hora certa!
Um beijo
O tempo da vida. E a hora em que tudo se acerta.
gosto muito do bater dos teus "relógios" da poesia. batem sempre hora certa...
o tempo é uma "espiral". e incerto o bater do coração... porém, chegará a Hora!
gostei muito.
beijo.
ah incerto bater do coração
decerto tenho a corda avariada
não sei ao certo que horas são
se é noite ou já é madrugada.
fui ver: a neve caía
e não era altura dela
longe uma hiena balia
e chorava uma cadela.
seguia a Terra seu curso
girava que´ra um regalo
tocava tambor o urso
e assobiava um cavalo.
embatutava o maestro
da orquestra dos animais
com a esquerda -que´ra dextro
para o naipe dos metais.
nas cordas estavam os gatos
uma rã no violoncelo
as moscas tocavam pratos
e ao piano um camelo.
Bem gostava de deixar um comentário à séria, mas qual quê? fogem-me sempre os dedos para o desatino - e o desatino é incoerente como são estas rimas. Digamos que vim aqui fazer o gosto à escrita e deixá-la correr sem formalismos. Não te importas pois não?
beijinhos e sorrisos.
o tempo no contratempo à volta de um eixo. Chamamos-lhe vida...
um beijo
Licínia, nem sei o que dizer. Um poema que me tocou fundo pelo assunto mas, especialmente pelas imagens poéticas encontradas em cada palavra escolhida.
Um beijo.
Compassos da vida!
O relógio é uma pequena maravilha!
Das terras de Sua Magestade?
Um beijinho
... pelo menos aqui no teu sítio, sinto que esse (tempo) é chegado.
beleza de palavras, Amiga!
uma beijoca fraterna.
O Outono está aí...
Depois vem o Inverno e os relógios não param...
Bjs
Está tão bom este texto! Inteligente e belo, como sempre!
Beijos, amiga Licínia.
Ficando para uma outra oportunidade rever e comentar o teu blogue, Venho aqui hoje apenas para informar que o meu novo blogue se intitula "O Lugar & os Monos" e que tem o seguinte endereço [ http://perdido-teste.blogspot.com/ ]. Os postais expedidos de O Tremontelo estão acessíveis a partir do novo blogue. Beijos e abraços. Rodrigo (Perdido)
O percurso do Tempo dito de um modo especial e dolorido. O título, curto, contendo um todo lá dentro. Assim sinto este texto.
mas leiga, não és nas palavras que tudo dizem ...
Que metáforas poderosas e belas para nos falares do fluir inevitável da vida,e da natureza, e da sociedade, Sra Poetisa!Está aqui tudo. Empolgante.
o que aprendemos na primavera esquecemos no outono.
mas haverá um dia, sim, de ajuste de contas!
beijinho.
Acho que nunca batemos certo
e ainda bem
para haver equilibrio
na asimetria
Na rotação das estações da Vida, há momentos em que só as maiúsculas fazem sentido. A Poesia sabe encontrá-los.
Parabéns, Licínia, e um beijo.
Houve uma era em que havia ponteiros nos relógios e campanários nas aldeias. Nas vilas, conforme os santos de sua devoção, os sinos badalavam de todo o lado em perfeita sincronia. Relógios, astros e corações batiam em satisfeita harmonia. As estações vinham seguras nos momentos apropriados.
Hoje a vida já não gira, nem a Terra se escreve com maiúscula. O tempo é um contador que progride somando um a um os minutos do consumo da vida. E as estações deixaram de ser a idade do homem.
Mas hoje é hoje e isso não tem remédio. Nem sei mesmo se é doença. Que, sendo, será sem cura. Remédio será voltar a aprender a escrever Terra e Vida com maiúscula e acrescentar às palavras com maiúscula Paixão e Coração.
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