UM DIA
Um dia, hei-de escrever, de descrever
o tempo em que não houve tempo
com palavras abstractas,
feitas de sílabas mortas,
que não querem dizer o que dizem
ou simplesmente nasceram
para não dizer seja o que for.
Um dia, talvez semeie enigmas nos poemas
que Édipo algum consiga decifrar
e fale de cidades que nunca existiram,
povoadas de gentes incolores e etéreas,
sugerindo ser e não ser não sei o quê.
Um dia, talvez deixe de repetir "um dia”
e diga seriamente “hoje era noite”
e recuse tudo o que é linear
e deixe de escrever coisas estúpidas
nascidas das feridas do meu mundo.
Por agora, vou dizer:
Um dia, quando eu for crescida, Mãe,
e a tua voz partir de vez do meu ouvido,
farei discursos exactos
que não sangram nem sorriem -
os poemas convenientes.
Licínia Quitério, em "Da Memória dos Sentidos"
Apeteceu-me revisitar palavras antigas que foram minhas. Um filho novo não me fará enjeitar o mais velho. Não seria justo.
23.11.08
REVISITAÇÃO
partilhado por Licínia Quitério às 3:14:00 da tarde
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21 comentários:
Como tenho as "duas crianças" à cabeceira, desassossegando-me os breves minutos que lhes pego, às vezes, para os saborear como novos ...
acho bem que os relembres do sentido e da memória.
Esses poemas de viver e dizer, diferenças!
Bjinho
Belo!
Licínia,
A revisitação é um acto de amor como o escrever.
Laços que perduram para lá do tempo.
Um beijo meu
PS: as malaguetas aguentam-se? :)
As memórias vivas
até podem ser
reconstruidas
porque tudo está em movimento
até as palavras
rewind - belo ~
e ao revisitar palavras antigas, brindaste-me com um novo e belo poema, Amiga. valeu!!!
Nunca deixes de escrever "coisas estúpidas nascidas das feridas do mundo". É preciso haver quem o faça, com a beleza que dás às palavras. **
Poemas convenientes, não creio que alguma vez os farás.
Poemas belos, de tecitura delicada e sensível, fizeste e continuas a fazer:))
Beijo
Depois de te ler, e de ler as última linhas depois do poema, só te posso mandar um beijo com um sorriso...
Parabéns pelo novo livro, Licínia, por ainda te manteres aqui a escrever tão bem!
Ando fugida dos blogues, o tempo não chega para descansar desta nova etapa no trabalho...
Beijinho da flor
E se é bela a tua revisitação! Ainda bem que o mostraste aqui.
Que se pode dizer perante os teus versos, senão ... Belíssimo, Licinia!
beijo
Fizeste bem em revisitar-te. Um dia as palavras hão-de falar dos teus poemas. Um beijo.
Todos os filhos têm o seu lugar especial!
Seria um prazer assistir ao parto do próximo, Licínia!
Lindo este teu poema!
Um beijinho
um dia....
beijo
Poema lindo. Vai de encontro a uma frase que digo e penso ainda mais. "Um dia nunca mais digo um dia". Quando será que isso vai acontecer? Jinhos.
... e tens toda a razão deste mundo e do outro. O das letras de que são feitos os poemas.
E fizeste muito bem em dar a conhecer-nos este "outro filho de mais idade" que não deixa por isso de merecer tanta atenção como o que "nasceu" agora.
beijinhos e sorrisos.
Ou será que foi o filho que voltou para visitar a mãe?
não escreverás palavras abstractas. mas poemas feitos do barro das humanas coisas. e assim estará certo...
gostei de saber de todos os teus "filhos"...
beijos
sim senhora. Bom poema! :) passarei por aqui mais vezes.
td de Bom!
benditas as feridas que nos permitem partilhar estes sentimentos e desta forma tão harmoniosa. Mesmo que seja noite no tal dia. E o amor também tem medidas de conveniência, claro que bem demolhadas no amor de mãe.
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