Pode ocorrer um verão em que o calor
seja martelo e escopro contra as dunas
e as fragmente teimosamente fragmente
até que a visão táctil das miragens
desfaça a maldição dos velhos
e o sangue do mar em terra firme
apazigue o cansaço dos rebanhos
e a secura aprendida dos escravos.
Intactas ficarão as grutas dos mistérios
com as tábuas de sal por decifrar.
Os homens do deserto moldarão
com as mãos ardidas letras novas
outras perguntas cantos jovens
repetidos rostos de mulheres-leoas
enigmáticas como devem ser.
Ínfimos fragmentos só o verão os traz
e os crava na dor da pele em chamas.
Licínia Quitério
1.7.09
FRAGMENTOS
partilhado por Licínia Quitério às 8:28:00 da manhã
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11 comentários:
Gostei. Como sempre. Fragmentos, um belo título. Beijos.
Bem-vinda!
"Os homens do deserto moldarão
com as mãos ardidas letras novas"
que daráo belos poemas como este, com cheiro a dunas de areia branca.
Lembrei-me, ao escorrer os olhos por este poema que, por vezes, nos vem à memória imagens distorcidas pelo calores de qualquer Verão...
abraços
www.tintapermanente.com
um poema que arde. em beleza pura.
beijo
"As mulheres do deserto falarão
de novo
com mãos de febre
sobre os filhos
e tempos
perdidos.
E
nas searas de areia
palavras-plantas-novas.
Tuas"
Beijos e abraços para o teu oásis.
"Ínfimos fragmentos só o verão os traz
e os crava na dor da pele em chamas."
Belas as palavras quentes com que nos presenteias, no teu regresso...
Beijo
um canto antigo e bravio. de mulheres em chamas...
belíssimo.
beijo
Belíssimo, o poema, que deixa intactas as grutas dos mistérios e incendeia a pele.
Um beijo Licínia.
Dos mistérios do verão no fragmento das palavras. Belissimo.
Que venha esse verão, em que o calor seja martelo! Que o tragam as tuas palavras! Beijo
senti as «chamas» deste verão, destas palavras...
beijo.
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