1.9.09

ENQUANTO O LOBO

Enquanto o lobo não chega
com o tempo atado nas goelas,
vigiamos a escuridão e os sinais
de luz nas matas sonolentas.

Quem sabe, vaga-lumes esquecidos
das infâncias, ou o sabor do pão
das mães a iluminar a fome.

Indistintos contornos de meninos
perdidos ou de mulheres insanas
com breu e oiro nos cabelos.

É a lua, dizem, que nos solta
da raiva primitiva dos presídios
e nos ensina o uivo disfarçado
no vai-vém incansável das marés.

Luar de fel por vezes, solitária luz.
Por entre os dedos fios de amor
escondido sob o adro de lajedos.

Luar de mel, também, na berma
clara de um caminho novo,
na trama de uma manta de segredos,
na média noite sem grades e sem lei.


Licínia Quitério

12 comentários:

Maria disse...

Que se soltem os fios de amor dos dedos
que se teça uma teia de oiro e luz
que afaste para sempre os lobos...

Beijo, Licínia

Justine disse...

Os ritmos telúricos e perenes. Os que nos dão as raízes precisas. E também as asas.

Mar Arável disse...

O fel e o mel

sem grades

de corpo inteiro

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

enquanto os lobos não se ouvem , ouvimos nós outras vozes de floresta mar ou campos de luz !
Enquanto !...
Abraço, Licìnia
_________ JRMARTo

bettips disse...

Sem amos. Sem lobos.
Mas "ensinaram-nos o uivo disfarçado" e com ele esgrimimos a pouca liberdade que nos resta!
Até ao fim dos nossos tempos.
Bj grande e sólido como o palácio...

Graça Pires disse...

O mel. Os lobos. Este sítio do poema onde se escreve: "Quem sabe, vaga-lumes esquecidos das infâncias, ou o sabor do pão
das mães a iluminar a fome".
Uma maravilha, Licínia.
Um beijo.

Alberto Oliveira disse...

A Lua já conheceu melhores dias: de mistério, que é também um dos ingredientes com que se "fabrica" o amor e outras lutas...
Pisada pelo pé humano e desnudada ao milímetro até os lobos lhe faltam ao respeito.

Maria P. disse...

Não sei dizer o ritmo sentido/tenso/intenso que me provocaram estas palavras...
Não sei.
Sei que adorei.

Beijinho:)

Manuel Veiga disse...

mel silvestre. por vezes.

em que os dedos sangram. e desbrava caminhos...

belíssimo.

beijos

Arábica disse...

Dos lobos apaziguados na terra sonolenta. Muito bom.

M. disse...

Fortíssimo! É o que sei dizer sobre este poema muito belo.

© Maria Manuel disse...

«enquanto o lobo» não chega, enquanto a raiva não nos chega, persigamos a luz pura desse caminho novo... muito belo, Licínia!

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