As doces mãos da infância
subitamente afloram
o tecido enrugado
do dia a desmaiar.
Trazem consigo a tremura
das bolas de sabão
a crescer, a crescer, a voar.
E o nosso corpo freme a assomar
à janela do tempo que foi
mais que perfeito,
assim dizemos.
Não nos pertencem
as doces mãos da infância.
Cavalgam nuvens coloridas,
nadam em águas claras,
colhem flores e risadas
e canções de embalar.
Por vezes voltam,
num relâmpago,
a iluminar o nosso quarto escuro.
Por vezes não são mais
do que a ternura
que presssentimos
no dia a desmaiar.
Licínia Quitério
17 comentários:
As memórias à desfilada pelo nosso presente, às vezes colorindo-o, às vezes enegrecendo-o.
"as doces mãos da infância", que belíssima imagem...
Um beijo por este poema, amiga:))
Doce como a ternura e as mãos.
Poema de suave beleza, tal qual "as doces mãos da infância"...
Tão bom quando nos visitam ou, pelo menos, lhes pressentimos a ternura!...
E de repente bateu-me uma saudade...
Bela a imagem das mãos da infância.
Um abraço.
... voltou ao quarto que antes tinha sido o da sua infância. Estava desocupado, pois a casa estava para demolir, informou-o o proprietário. Pediu para ficar uns momentos, só. Fechou os olhos e "viu" perfeitamente a sua mãe aconchegando-lhe a roupa da cama e arrumando uma locomotiva a vapor, algumas revistas de banda desenhada das quais começava agora a perceber o valor das palavras que acompanhavam as imagens e um leão de peluche em muito mau estado. Depois beijou-o e saiu de mansinho.
Abriu os olhos e lamentou que a casa tivesse de ser demolida e com ela fosse o sítio onde viveu a melhor e mais pura parte da sua vida.
Fabulosa esta tessitura de imagens e palavras que nos ofereces!
em busca do tempo da Memória (tempo perdido?). que dá cor aos dias bassos.
muito belo.
beijo, Amiga
como se acendem gestos
de ternura doce
como se diz saudosamente
uma pátia de afectos
que vai sustendo as mãos
______
terno beijo
belíssimo poema: um poema-gesto, uma evocação afectuosa do tempo sem tempo, do tempo limpo de rugas com todo o horizonte por abrir, tempo da infância, do "pasmo essencial" (Alberto Caeiro).
grato pela partilha,
luís filipe pereira
Lembranças de mim?
Um reviver de dias não muito distantes e que deveriamos guardar eternamente.
Um poema doce, Licínia.
um belo poema sobre essa doçura da infância que gostaríamos de conservar e, felizmente, nos assoma, de quando em vez.
beijo, Licínia!
Trazem-nos as mãos da infância, doces prodigios de ternura... Sim, e escrito por ti, como soa belo...quem levará aos meninos a poesia dos afagos? Quem os ensinará a soletrar ternura?
Beijinho, Licínia.
O tempo da infância que a memória não deixa morrer.
Um excelente poema, Licínia. Um beijo.
Olhando as nossas mãos
estaremos em viagem
até regressarmos à infancia
Sempre terno e belo
Bjs
Tu...
enterneces-nos!
Despertas-nos a ternura com a suavidade dum raio de sol e um riso infantil.
Bj
Encontrei muita doçura nas mãos que aqui escrevem.
Obrigada pela terna partilha...
Beijinho
belíssimo! e é bom quando por vezes as sentimos de novo :)
beijo, Licínia.
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