26.2.10

AS DOCES MÃOS DA INFÂNCIA

As doces mãos da infância
subitamente afloram
o tecido enrugado
do dia a desmaiar.
Trazem consigo a tremura
das bolas de sabão
a crescer, a crescer, a voar.
E o nosso corpo freme a assomar
à janela do tempo que foi
mais que perfeito,
assim dizemos.
Não nos pertencem
as doces mãos da infância.
Cavalgam nuvens coloridas,
nadam em águas claras,
colhem flores e risadas
e canções de embalar.
Por vezes voltam,
num relâmpago,
a iluminar o nosso quarto escuro.
Por vezes não são mais
do que a ternura
que presssentimos
no dia a desmaiar.

Licínia Quitério

17 comentários:

Justine disse...

As memórias à desfilada pelo nosso presente, às vezes colorindo-o, às vezes enegrecendo-o.
"as doces mãos da infância", que belíssima imagem...
Um beijo por este poema, amiga:))

hfm disse...

Doce como a ternura e as mãos.

Joaquim do Carmo disse...

Poema de suave beleza, tal qual "as doces mãos da infância"...
Tão bom quando nos visitam ou, pelo menos, lhes pressentimos a ternura!...

Maria disse...

E de repente bateu-me uma saudade...
Bela a imagem das mãos da infância.

Um abraço.

Alberto Oliveira disse...

... voltou ao quarto que antes tinha sido o da sua infância. Estava desocupado, pois a casa estava para demolir, informou-o o proprietário. Pediu para ficar uns momentos, só. Fechou os olhos e "viu" perfeitamente a sua mãe aconchegando-lhe a roupa da cama e arrumando uma locomotiva a vapor, algumas revistas de banda desenhada das quais começava agora a perceber o valor das palavras que acompanhavam as imagens e um leão de peluche em muito mau estado. Depois beijou-o e saiu de mansinho.
Abriu os olhos e lamentou que a casa tivesse de ser demolida e com ela fosse o sítio onde viveu a melhor e mais pura parte da sua vida.

M. disse...

Fabulosa esta tessitura de imagens e palavras que nos ofereces!

Manuel Veiga disse...

em busca do tempo da Memória (tempo perdido?). que dá cor aos dias bassos.

muito belo.

beijo, Amiga

maré disse...

como se acendem gestos
de ternura doce
como se diz saudosamente
uma pátia de afectos
que vai sustendo as mãos

______

terno beijo

luís filipe pereira disse...

belíssimo poema: um poema-gesto, uma evocação afectuosa do tempo sem tempo, do tempo limpo de rugas com todo o horizonte por abrir, tempo da infância, do "pasmo essencial" (Alberto Caeiro).
grato pela partilha,
luís filipe pereira

Benó disse...

Lembranças de mim?
Um reviver de dias não muito distantes e que deveriamos guardar eternamente.
Um poema doce, Licínia.

© Maria Manuel disse...

um belo poema sobre essa doçura da infância que gostaríamos de conservar e, felizmente, nos assoma, de quando em vez.

beijo, Licínia!

Arábica disse...

Trazem-nos as mãos da infância, doces prodigios de ternura... Sim, e escrito por ti, como soa belo...quem levará aos meninos a poesia dos afagos? Quem os ensinará a soletrar ternura?

Beijinho, Licínia.

Graça Pires disse...

O tempo da infância que a memória não deixa morrer.
Um excelente poema, Licínia. Um beijo.

Mar Arável disse...

Olhando as nossas mãos

estaremos em viagem

até regressarmos à infancia

Sempre terno e belo

Bjs

bettips disse...

Tu...
enterneces-nos!
Despertas-nos a ternura com a suavidade dum raio de sol e um riso infantil.
Bj

Virgínia do Carmo disse...

Encontrei muita doçura nas mãos que aqui escrevem.

Obrigada pela terna partilha...

Beijinho

© Maria Manuel disse...

belíssimo! e é bom quando por vezes as sentimos de novo :)

beijo, Licínia.

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