12.2.10
O MAR IMENSO, DIZIA
O mar imenso, dizia,
como se dissesse sede de viagens.
A leveza das aves, dizia,
se o ar não se detinha no cálice das mãos.
As pedras robustas, dizia,
quando não sabia das areias
movediças, no jardim da casa.
Nos umbrais das esperas,
os frutos maduraram,
as crianças cresceram.
Já era velha a tarde
quando a estrada lhe pegou os passos,
duas gotas de orvalho nos cabelos,
uma lua de prata presa ao peito.
Foi a hora de aprender com as cigarras
o ofício de cantar a vastidão dos campos
e o breve breve tempo do Verão.
Licínia Quitério
partilhado por Licínia Quitério às 4:29:00 da tarde
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14 comentários:
Tão cantantemente belo!
Não sei se é do mar ou do fim de tarde, das gotas de orvalho ou da lua de prata. Sei que é um dos poemas que mais me tocou, aqui.
Um beijo.
Gosto muito das imagens que estas palavras me ensinaram.
L.B.
Quente e doce e nostálgico, o teu cantar.E perfeito!
Deixar o mar para trás e cantar os caminhos, possiveis, ainda que breves, breves, da terra.
Um beijo, Licínia.
o mar diz
a febre das viagens
o caminho incerto dos barcos
o olhar mareante dos mastros
e o ventre fecundo da terra
que atira à leitura do sol
_____-
apesar do frio, uma semana amena e de palavras quentes
dizia...
o breve tempo da vida!
q/
- O que me dizes a uma viagenzinha até ao centro da vila?
- Não é mal pensado, não senhor, mas...
- Mas o quê? Lá começas com as tuas mariquices.
- É que um dia destes voávamos rentes à peixaria da dona Amélia, ela veio cá fora e disse alto e bom som "gaivotas em terra, sinal de tempestade".
- E então? deixaste de dormir nesse dia por causa dessa boca?
- Não. Mas pensei que podíamos montar um negócio de metereologia na banca dos carapaus.
- Tem mas é juízo nesse bico. Vamos lá voar mais um pedaço a fazer horas para o Verão.
- Voar voo, mas olha que não trago relógio...
sorrisos.
... que belo , belo , Licínia!
o meu abraço, Poeta!
_________ JRMARTO
Como eu te entendo, querida amiga, como eu te entendo. Sorvi palavra a palavra os mesmos sentimentos partilhados. Só que eu não tenho o dom das tuas imagens cruéis e tive que repetir, palavra a palavra, o teu maravilhoso canto do desencanto outunal. Porque o desencanto outonal porta consigo as fantasias da Primavera.
O mar é imenso e belo, digo, quando as gaivotas descem a prumo sobre os mastros...
Um belo poema, Licínia, como sempre. Um beijo.
cantar de cigarra na maturação das searas. cálido de afectos e de amoras na orla da estrada...
belíssimo. sempre.
beijo
soube tão bem este poema! lindo, de encanto, sob azul!
Límpido e azul este teu poema.
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