3.2.10

QUANDO A SOMBRA



Quando a sombra se adensa  nos degraus da tarde,
na polpa dos dedos há rumores de sangue,
lamentos de mendigos  nas ramadas altas 
e um vento branco na floresta de preces maternais.
  
A ternura,  um dócil animal no limiar do sono, 
ensina aos homens a canção da terra, dolente, 
augúrio de feitiços no ritmo da noite.

Assim todos os dias, a aprendizagem das sombras,
na travessia do grande chão silencioso.

Licínia Quitério

14 comentários:

Justine disse...

Cada vez mais depuradas e mais exaltantes e mais belas as metáforas com que a tua poesia ganha profundidade!Adorei este teu poema algo tacturno, algo melancólico.
Beijo, minha poetisa

Graça Lacerda disse...

QUE BLOG EXCELENTE!!!

Licínia, muito prazer!
Sou professora, e possuo um Projeto Educacional O Poder das Palavras (ou Fazer Adormecer e Acordar Palavras...), recentemente 'batizado' pelo tradutor e amigo João Esteves como LEXICOTERAPIA.
(neo-orkuteiro.blogspot.com)

Peço licença a você, com todo meu respeito, minha amiga, de colocar seu post (2006) linkado, em meu blog, pois trata do assunto com o qual trabalho e virá enriquecê-lo bastante!

Um grande abraço, parabéns, e afirmo sem ter lido todas as suas produções (apenas pelo que pude ver e sorver) que você é grande poeta!!

Voltarei para conferir com toda calma, aguarde! Já está nos meus favoritos.

Graça Lacerda

luís filipe pereira disse...

Magnífico poema que nos convoca para a rútila "aprendizagem das sombras".
Desejo ler mais desta belíssima poesia,

luís filipe pereira

bettips disse...

...de como a floresta nos sussurra, com os seus momentos de sol e de sombra. Tão ténues as palavras tuas como essa luz que espreita.
***
O Lorde era lixadinho mas balente! O livro romanceia a época mais do lado italiano que inglês.
E quanto ao resto, linda, lembro Samuel Johnson: "Quem está cansado de Londres está cansado da vida". Tive o gosto de lá "viver" e não só de turismo, degustei e gostei. Quem me dera lá ter estado/permanecido e vir ao sol de cá...
Bjinho

José Carlos Brandão disse...

A aprendizagem das sombras - bela definição da vida. Suas imagens são bem montadas. O poema me parece muito bom.
Beijos.

M. disse...

Belíssimo, Licínia!

vieira calado disse...

Excelente, este seu poema de hoje!

Beijinho

Rui Fernandes disse...

Oh-lá-lá! Isto cheira-me a Hölderlin no seu melhor. Só espero que não enlouqueças, mas se isso tiver que acontecer vai-nos dando tudo o que tens para nos dar

"Assim todos os dias"

para que o ensino dos animais domine a sombra

auguri

Manuel Veiga disse...

poema depurado. e luminoso.
límpido. e puro. como água na nascente...

beijo

Alberto Oliveira disse...

... este teu poema remeteu-me para os fins de dia de quando eu era menino. Sendo verdade que não vivia na floresta (com alguma imaginação a cidade bem o pode ser), havia sinais de mudança pagos com o sangue dos homens que a queriam fazer, as preces maternais eram uma constante e a ternura um dócil animal no limiar do sono. A travessia foi-se fazendo, com as dificuldades daqueles tempos, temperadas com as travessuras em que me especializei bem cedo. As outras (travessias) vieram mais tarde mas de tal modo, que eu e o Tejo nos tornámos amigos. Do peito.

Sorrisos e abraços.

augusto, um entre mil disse...

...a ternura, um dócil animal no limiar do sono...


senti

Arábica disse...

Seremos nós capazes de tamanha e humilde aprendizagem?

Um abraço amiga minha!

© Maria Manuel disse...

na polpa dos dedos há rumores de sangue,
lamentos de mendigos nas ramadas altas
«Assim todos os dias, a aprendizagem das sombras», muito belo isto, Licínia, muito belas as imagens ao longo do poema, todo ele belo! uma aprendizagem das ficiculdades quotidianas, do sangue e dos lamentos; mas também as preces e a «canção da terra».

beijo!

maré disse...

que poema belo!

como um crepúsculo que guardou na luz todas as imagens do dia


____

beijo terno

arquivo

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