Encosta-o ao ouvido,
a mão em concha
a modelar-lhe o dorso.
Agora fecha os olhos,
aparta-te do mundo,
murmura búzio como
quando pela última vez
disseste meu amor
e só o mar te ouviu.
Escuta o clamor das ondas,
lá longe, onde findaram
as praias, as falésias,
e os navios fantasmas
não podem aportar.
Espera um pouco mais.
Uma voz hás-de ouvir
que só pode ser água
que só pode ser vento
ou então a mesma voz
com que disseste amor
pela última vez
e só o mar ouviu
e para sempre guardou
no côncavo de um búzio.
E tu o tens colado no ouvido,
e tu de olhos fechados
e tu apartada do mundo
e tu escutando o mar
que no fundo da noite
acolheu tua voz
dizendo meu amor
de joelhos na praia.
Mulher de marinheiro
que foi e não voltou.
Licínia Quitério
12 comentários:
Ladaínha de esconjurar dores, saudades e ausências, na cadência mansa dos teus versos.
Beijo, amiga!
"Ladainha" deliciosa essa, amiga, se a conseguirmos escutar que, mulher de marinheiro, sim, lhe dá real valor: o valor do amor-saudade, que se busca no vento, entre as ondas do mar, tão longe e tão perto!
Beijinho
Lindíssimo, Licínia! Um poema azul e límpido.
E sabes uma coisa? Lembraste-me a escrita de Sophia de Mello Breyner.
... antes era assim. A gente pegava no búzio e dizia o que nos vinha à cabeça: os nossos receios, esperanças, amores e desamores e até de amizade se falava.
Com o advento do telefone, as coisas começaram a fiar mais fino. E quando chegou o telemóvel... bom então, falamos de tanta coisa que por vezes nem acreditamos que tínhamos tanto para dizer e que não era coisa alguma...
Gostava. Claro que gostava de voltar ao tempo dos búzios. Da comunicação sem fios e inocente.
beijinhos.
de um lirismo eternecedor. esta música no interior do(s) búzio(s).
amorável poema.
beijo
Não tenho aqui à mão um búzio, mas devia ter. Mas foi como se o tivesse. Um belo poema, Licínia, muito belo.
Poema para rezar em frente ao mar com um búzio no ouvido...
Belíssimo, Licínia!
Um beijo.
Lindo
O meu búzio de mãos
no ouvido
Bj
escuta a respiração do mar
e lembra o canto primeiro
que ecoou na pele
e se a água guardou um nome
sem retorno
escuta a ressonãncia da dor
e solta o luto triste
que aprisiona as águas
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linda homenagem às mulheres do mar
beijos
Ouvir o mar, como quem respira. Tantas histórias, além mistério.
Gostei, Licínia.
Beijo.
Lindo amiga. Fez-me lembrar tempos idos em que imaginava o mar através de um búzio!
que poema lindo, Licínia! e tem dor e saudade, e é lindo e apaziguador. beijinho.
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