Vem comigo. Eu ensino-te a ver o interior das pedras. Fecha os olhos. Tacteia o fuste. Sente a fria lisura na palma da tua mão. Abraça a coluna até onde chegar a vontade dos teus braços. Encosta o ouvido como se faz a um búzio. Podes até pensar que tens um corpo vivo ali ao teu dispor. Escuta o bater do teu coração. Há muito não o ouvias, eu sei. É preciso sonhar com o interior das pedras para ouvir o relógio da vida. Aquieta-te. Não desvies o teu pensamento do coração da pedra. Bate como o teu, não é? Já não está fria a pedra. Podia bem ser um corpo vivo. Há agora água dentro dos teus olhos. Não tarda molhará a pedra e chorarão as duas. Não mais dirás que és diferente da pedra. Depois farás o mesmo com a árvore. Não mais dirás então que tu e a árvore são diferentes. Farás o mesmo com uma estrela quando ela cruzar o teu caminho. Saberás que és igual à estrela. Estarás pronta para conhecer e amar o coração dos homens.
Licínia Quitério
15 comentários:
Perfeito!
Soberbo!
A emoção e sensibilidade à flor da tua pele.
Obrigada, Licínia, por haver, neste preciso momento, água nos meus olhos.
Um beijo.
De uma imensa sabedoria esta aproximação do Homem à Natureza, numa comunhão que só o Poeta entende.
Adorei!
L.B.
Belas letras!
Parabéns pelo blog!
Abraços!
Do tacto das palavras! Um grande texto de poética!
Vou contigo para que me ensines a ver o coração das pedras. E sei que haverá depois muita água nos meus olhos.
Licínia, um poema fabuloso!
Um grande beijo.
Repito
Eu já vi uma pedra
com vida por dentro
Bjs tantos
Foi bom acariciar a pedra conduzido pelas tuas mãos e as tuas palavras vividas. Beijos.
porque amo as pedras e gosto de tê-las por perto, seu poema significou muito para mim. um poema que nos relembra de que matéria somos feitos.
Belo momento de pura transcendência nessas palavras.
Um grande abraço envolto em puro agradecimento por compartilhar tuas criações.
Misturo-me com o silêncio e curvo-me perante a excelência das palavras.
Um abraço
É preciso fechar os olhos para ver de verdade.Começando pela natureza. Para entender, e só então se pode amar! A tua poesia é a mão certa para nos orientar nessa caminho:))
muito bonitas estas palavras, este apelo de ligação do Homem á natureza e dos homens uns aos outros, como um percurso para que cada um descubra o sentido e o valor da humanidade.
abraço.
não sei bem como vim aqui parar, mas por aqui vou ficar. parabéns pelo blog, e pelas palavras tão dadas ao preenchimento de quem as lê!
Ah... as pedras, essas amigas a quem nunca me envergonho de tocar, falantes, estuantes, caladas, migrantes, roladas, serenas, ameaçadoras, dispersas, esculpidas, rudes, brilhantes
brotam como punhos doridos da terra
quentes do calor do sol
veios de cogitações ao tempo
ah... mas as pedras ... tu sabes bem que lhes ouço o coração, enfeitado ou nu. E às vezes, vejo-o a bater, a falar comigo - nem sei bem se acho: que os espíritos serão estrelas se pedras.
Aqui à minha frente os papéis são serenados da sua confusão com pedras.
Bj
Assim vista, a natureza é um imenso coração a bater em uníssono.
Talvez a serenidade resida em acertar o ritmo do nosso coração com o pulsar do universo.
Obrigada
Um beijo
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