Pedra a pedra sabem os homens escrever
a memória dos tempos. Em Matchu Pichu,
na Grande Muralha, na Grande Pirâmide,
ou em Babel que se diz teve uma torre.
Pedra a pedra, homem a homem, dor a dor,
chicote a chicote, a construção não para.
Mais alto, sempre mais alto, que a terra
é pouca e o céu é vasto. Inventam as escarpas
e sobem-nas, pé aqui pé ali, até ao medo.
Não olham para baixo que a pele da terra
os enfeitiça e no seu ventre há fogo. No topo,
diz-se, um ceptro de oiro a atiçar a cobiça.
Por ele continuam, ferida a ferida, corda a corda,
e as mãos sangrando, e as pedras poderosas
com janelas de sol, medindo luas, predizendo
futuros. Pelas alturas devorados, os homens
não regressam e já ninguém os sabe nomear.
Machu Pichu, Esfinge, Stonehenge, as pedras
essas ficaram e têm nomes. O ceptro de oiro
só o condor sabe onde reluz, mas não o diz,
e os homens continuam, de dor em dor, mais
alto, cada vez mais alto, cada vez mais longe,
até à fraga onde perdem o nome.
Licínia Quitério
31.3.11
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7 comentários:
Quando el condor passa nas tuas palavras poéticas.
Excelente texto.
Saio do teu blog sempre encantado com o que escreves.
Beijinhos, querida amiga.
Pedra a pedra, dor a dor, a (des)construção... Do homem.
L.B.
Magnífica metáfora, Licínia!
Numa construção despojada e forte, as tuas palavras são as pedras.
excelente o tema! excelentes as palavras, que permanecem!
(para além da asas de cera que o sol derrete!)
muito belo.
beijos
Ai se as pedras falassem
nas falésias
Assustadoramente profético. Quase à semelhança de um texto bíblico. Implacável.
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