Há um cansaço por dentro desta tarde. Uma falsa quietude de seivas adoecidas. Bichos por entre as folhas mortas, amontoadas. Uma vozearia rumorosa, de palavras decompostas, insignificantes. O rodado dos carros é um rugido de feras severamente castradas. A minha cabeça inclina-se sobre a luz das candeias que nunca acendi. Há pobres à minha porta que desdobram papéis e recitam orações de santos que nunca adorei. Espero ainda as respostas impossíveis às perguntas impossíveis com que nasci. Chama-me a tarde, apodrecida e escura, entre o asfalto e as canas bravas, as velhas estrelas e um novo planeta. Cansada tarde, inclinada sobre a minha cabeça, comovida pelas luzes das candeias que ainda brilham, que ainda brilham.
Licínia Quitério
4 comentários:
Na ausência de relâmpagos
que brilhem as candeias
importa renascer das cinzas. e dos cansaços...
beijo, amiga
Imagem e escrita em uníssono a darem-nos de forma muito forte essa sensação de cansaço.
Sim, chega-nos por vezes um cansaço triste. Mas, tu o dizes, poeta,há "candeias que ainda brilham, ainda brilham"!
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