8.11.12

OBLÍQUO

O sol oblíquo nas tábuas, digo baixinho. Demoro-me na obliquidade da linha de sol, no seu tempo angular, na sua origem celeste, no seu efeito de régua sobre as tábuas. Enquanto digo e penso, o ângulo altera-se, aumenta ou diminui, de um lado ou de outro das tábuas, e eu permaneço, relativamente indiferente ao avanço do degrau de sombra a lamber-me os pés, na absoluta indiferença das tábuas ao seu toque, agora a apagar-se, a apagar-me as palavras sobre a efemeridade das linhas de sombra. Baixinho disse - o sol oblíquo nas tábuas. Assim sempre. 


Foto de escultura de Cargaleiro

Licínia Quitério

1 comentário:

M. disse...

Gosto em particular da imagem do "degrau de sombra a lamber-me os pés".

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