21.5.14

A CHUVA



A chuva salva do deserto, condena à enxurrada. Águas de todo o ano, leves, violentas, poalha e corda, refresco e inundação, rega e aluvião. Desejo da terra, repouso do afogado. A chuva dá a erva e a borboleta e as apodrece e mata. Tal qual a doçura do amor, a desmesura da paixão. Da raiz à casca morta, tudo na árvore se ri e se alumia, quando a chuva a toca. Evanescente a voz da chuva nos beirais da vida. Nós, no centro de todos os círculos, recebendo a chuva. Nós, na orla da abundância, inquietos, pela seca, pela cheia. Não pensar destino, pensar chuva, deixar-se ir, desaguar.

Licínia Quitério

3 comentários:

Mar Arável disse...

A chuva lubrifica a terra

na boca das sementes



Justine disse...

Muito belo o teu texto dialéctico como a vida, Licínia!

Manuel Veiga disse...

gosto das enxurradas que aquietam...

beijo

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