12.4.15

DO TEMPO BRUTO


Pouco se fala deste tempo bruto, 

falho de rituais, celebrações. 
Temível a escassez de dias novos, 
com gente a contemplar as áureas proporções,
de joelhos no saibro, 
atenta ao eco das esferas, 
comovida, silenciosa, 
longe, já muito longe
da multidão avara e ululante.

É este o tempo da corrida,
do mais lesto,
da luta, 
do mais forte,
do corpo, 
o mais violado.

Quem sabe, cala, 
que veloz é a luz,
e nada resta de quem com ela competir.
Forte é a gravidade que nos cola, 
sem apelo, 
a todos os fantasmas.
Do corpo, ah, do corpo,
só sabemos que nasce e vai morrendo,
indiferente ao abuso e ao incenso.

É preciso falarmos do que importa.
Da concha do caramujo, da espiral dos dias.

Licínia Quitério 

1 comentário:

Unknown disse...

Tem tempo que acompanho este sítio, porque aqui contemplo palavras e imagens ricas de sentido. Ricas do invisível que me toca e me revive. Obrigada!

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