30.4.19

O FORTE


No tempo de seres forte não havia 
cavalo que não domasses, 
corrida que não vencesses, 
mulher que te rejeitasse,
mar que te amedrontasse. 
Eras senhor do mundo, 
que outro mundo não havia
para lá da tua respiração, 
da força das tuas mãos, 
da cidade que dizias tua.
Rias-te da tibieza, 
tu eras a audácia.
Não choravas os mortos, 
tu eras a vida.
Para vencedor tinhas nascido,
os vencidos não eram culpa tua.
Acreditavas na eternidade
quando diziam que te amavam. 
Escolheste uma mulher
para ser tua até à morte.
Fizeste filhos a perpetuarem
a tua beleza, a tua força.
Prosseguias invicto e confiante.
Quando teu filho partiu 
não ficou pedra sobre pedra,
nem muralha, nem muro,
nem ruína.
Apenas o teu corpo de guerreiro
vencido e enfraquecido.
O terramoto destruiu a cidade
que julgavas tua.
No tempo de seres fraco
sabes que toda a força se consome,
toda a vida se esvai e
o tempo é breve para a vida de um poema.

Licínia Quitério

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